Há reparos a fazer nas afirmações de Setubal. Não é o lucro, mas a demanda que faz o empresário reagir imediatamente. Esse é o dado mais palpável que a realidade oferece a suas decisões. O lucro é uma decorrência da demanda, mediado pelas condições de concorrência e pelas inovações que cada empresa é capaz de criar.
Projetos de infraestrutura em geral têm grandes indivisibilidades técnicas, que exigem investimentos vultosos e longos períodos de maturação (prazo para que as receitas superem as despesas). Assim, suas rentabilidades são pouco atrativas do ponto de vista puramente privado.
Em compensação, são projetos que têm a longo prazo demanda mais estável e expressivas externalidades –como tornar a logística mais barata e eficiente–, o que os fazem rentáveis para o país.
Essa conjugação faz com que mundo afora seja pronunciada a presença estatal em infraestrutura, mesmo após as ondas liberalizantes dos anos 1980 e 1990.
Ainda assim, não há razão para, a priori, ser contra a presença privada em infraestrutura. Essa é uma decisão pragmática, com questões circunstanciais, como as capacidades financeira e de execução do Estado.
Entretanto, não faz sentido reivindicar taxas de retorno mais elevadas para os projetos de infraestrutura. A competição nos leilões pode reduzir a taxa de lucro de partida. Contudo, a experiência indica que não é eficiente deixar gordura demais na definição de preços mínimos ou tarifas-teto.