– (Cachoeira) É esse mesmo. Vão bater na Warre essa semana, viu? Ele perguntou o cara, o editor-geral (sic) lá, ligou para o Dadá para perguntar.
– (Cláudio) Pô, vão bater nele cara, não bate na Warre, pelo amor de Deus. Esses filhos-da-p… (leia no quadro o diálogo completo).
Nesse diálogo, “Dadá” é o araponga Idalberto Mathias, um dos presos no dia 29 de fevereiro durante a Operação Monte Carlo, da Polícia. “Fred” é Frederico Costa, secretário-executivo do Ministério do Turismo, preso na semana anterior ao diálogo por irregularidades relacionadas a repasses de dinheiro a ONGs. Quando fala “diretor-geral”, Cachoeira se refere ao chefe da Sucursal de Brasília de ÉPOCA, jornalista Eumano Silva.
No mesmo dia 15, por volta das 14h30, Cachoeira e Dadá falam do mesmo assunto:
– (Dadá) O pessoal daquela construtora lá (Warre), eles querem é se blindar, é?
– (Cachoeira) …rapaz, porque eu sou sócio deles nessa obra que saiu na Época e o sócio dele tem trinta por cento e eles têm setenta. Então eu (ininteligível), senão respinga em mim, entendeu?
Da conversa, pode-se deduzir que, ao passar as informações para ÉPOCA, Idalberto não sabia que Cachoeira tinha sociedade também com a Warre Engenharia. O jornalista Eumano Silva conversou com Idalberto algumas vezes durante a apuração da reportagem que denunciou as irregularidades na obra do Parque Mutirama. Nos últimos três anos, Idalberto apresentava-se como funcionário da área de segurança da Delta Construções. Para a reportagem sobre o Parque do Mutirama, Idalberto forneceu informações sobre a Warre Engenharia, concorrente da Delta. ÉPOCA ignorava que Idalberto estivesse ligado a Carlinhos Cachoeira ou a qualquer outra quadrilha.
As informações que Idalberto forneceu sobre a Warre foram todas verificadas e confirmadas pelos autores da reportagem com outras fontes de informação. Os jornalistas fizeram contatos com PF, MPF e empresários de Goiânia. Naquela semana, ÉPOCA investigava novas informações sobre as irregularidades no Ministério do Turismo. A prisão do secretário-executivo, Frederico Costa, e de outros 33 investigados pela Operação Voucher, da PF, que tornara público um grande esquema de corrupção no ministério. Em janeiro de 2011, oito meses antes desse escândalo, Época já publicara uma reportagem sobre a ficha suja de Frederico Costa, promovido a secretário-executivo do Turismo no início do governo Dilma Rousseff.
A denúncia de Época sobre a obra em Goiânia surtiu efeito. No dia 10 de fevereiro de 2012, seis meses depois de publicada a reportagem, a PF prendeu em Goiânia cinco pessoas acusadas de desviar dinheiro da obra do Parque Mutirama, entre elas dois engenheiros da Warre Engenharia. No dia 12 de maio de 2012, o MPF em Goiás pediu a interrupção da obra do Parque Mutirama e o cancelamento do contrato da Warre com a prefeitura de Goiânia.