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Gravações levantam suspeita de superfaturamento de equipamentos de saúde comprados sem licitação no RJ

A Polícia Federal fez gravações autorizadas pela Justiça. Em uma delas, um dos investigados, o empresário Luiz Roberto Martins Soares, cita suposta ajuda do governador Witzel, que será ouvido pelo Superior Tribunal de Justiça.

A Operação Lava Jato prendeu, esta semana no Rio de Janeiro, cinco suspeitos de fraudar contratos milionários na área da saúde, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus. A investigação da Polícia Federal, Ministério Público Federal e Receita Federal aponta como chefe do esquema um empresário que presta serviços ao estado do Rio desde o governo de Sérgio Cabral. O Fantástico teve acesso a conversas telefônicas que revelam detalhes da corrupção. Veja na reportagem de Marcos Uchôa e Mohamed Saigg.

A operação tem o nome de Favorito porque define bem a situação do principal acusado, o empresário Mario Peixoto, preso numa casa à beira-mar, em Angra dos Reis. Ele é o principal nome de uma organização suspeita de se apropriar de milhões de reais de dinheiro público.

“Eles têm como característica uma vinculação política muito forte, então com isso conseguem se perpetuar nesses contratos públicos ao longo de diversos governos”, destaca a procuradora Marisa Ferrari.

Dois ex-presidentes da Alerj, a Assembleia de Deputados do Rio, Paulo Melo e Jorge Picciani, ambos já condenados e presos por outros processos, eram íntimos de Mario Peixoto. Foram padrinhos no casamento milionário do empresário em 2014, celebrado no mesmo castelo italiano onde se casou o astro americano Tom Cruise. O lucro de contratos com os governos estadual e municipal do Rio, e com pelo menos mais três prefeituras permitiam — e aliás, continuam a permitir — esses luxos.

As empresas dele atuam desde a época do governo de Sérgio Cabral, passaram pelo de Luiz Fernando Pezão e permanecem no atual, de Wilson Witzel.

A Polícia Federal fez várias gravações autorizadas pela Justiça. Em uma delas, um dos investigados, o empresário Luiz Roberto Martins Soares, cita uma suposta ajuda do governador Witzel, que será ouvido pelo Superior Tribunal de Justiça.

Luiz Roberto Martins Soares: “O Zero Um do palácio assinou aquela revogação daquela desclassificação da Unir, tá? Aquela desclassificação que impediu a gente de assumir as UPAs”, diz a gravação.

Ele se refere a uma das empresas do grupo que estava descredenciada, mas que recentemente foi autorizada a voltar a funcionar pelo governo do estado. E olha com que apetite!

“O pessoal já está todo doido atrás de mim, para me dar contrato. Vai revogar aquela desqualificação da Unir. Estão querendo me dar um hospital… Saracuruna, 15 milhões de contrato”, diz a gravação de Luiz Roberto Martins Soares.

Por nota, o governo do Rio informou que todos os contratos celebrados com as empresas envolvidas nas denúncias serão auditados. Que enquanto durar a auditoria, os pagamentos aos fornecedores fiscalizados ficarão suspensos e poderão ser cancelados caso sejam encontradas irregularidades. E que o governador Wilson Witzel desqualificou o Instituto Unir de Saúde.

Luiz Roberto Martins, preso na operação, seria um dos sócios da organização social Instituto Unir Saúde, junto com Mario Peixoto. Na casa dele, a polícia encontrou R$ 1.589.000. Uma gravação indica uma das principais funções deste dinheiro. Tudo por ordem do chefe, Mario Peixoto.

Luiz Roberto Martins Soares: “Tá pagando uns cachezinhos assim, 500 mil pra um, 1 milhão pra outro. E ele não é brincadeira, não.”

A organização expandiu seus tentáculos até para a Marinha. A polícia suspeita da participação de um militar. Ele aparece conversando com Alessandro Duarte, um dos líderes do grupo.

Militar: “Tu consegue três preços diferentes com três CNPJ?”
Alessandro: “Consigo, pô.”
Militar: “Vai ser um volume grande, que é para montar em todo quartel. Não precisa fazer licitação. Vai ser com urgência entendeu? As três cotações. Álcool em gel. Valor unitário.”
Alessandro Duarte: “Tá.”
Militar: “Aí, a gente consegue entrar aqui na Marinha, valeu?”

Por nota, a Marinha informou que instaurou um inquérito para apurar indícios de fraude na compra de álcool em gel. E que afastou o militar envolvido nas denúncias.

A organização também tem empresas de fachada. Uma delas dava como endereço uma casa onde funciona um salão chamado Dondocas Unhas.

Outra das que fazem parte do grupo deu como endereço um prédio quase abandonado no centro de Saquarema. Sessenta e três empresas cadastraram a mesma sala, do mesmo prédio, como local da sede. E em um prédio no Rio funcionam outras cinco empresas do grupo. Uma delas é a MCK, originalmente uma offshore sediada nas Ilhas Virgens Britânicas com ligações com outro velho conhecido dos escândalos de corrupção do Rio de Janeiro, o empresário Arthur Soares, o rei Arthur. Através dela, foram compradas duas coberturas em Miami, nos Estados Unidos. Uma delas está à venda. Segundo a PF, elas teriam sido dadas como propina para o ex-deputado Paulo Melo, um dos presos na operação.

Dos cinco detidos na operação, o único que não foi para a cadeia, mas está em prisão domiciliar, foi Vinícius, filho de Mario Peixoto, porque está com Covid.

Repórter: “Uma das formas que eles utilizam é usar a família, né? Você acaba vendo uma ramificação de irmãos e mulheres, cunhados… Falta família às vezes para essa organização.”

“Eu costumo falar que normalmente o primeiro nível da lavagem, uma lavagem menos sofisticada, é quando está usando os familiares. Aí depois eles começam a passar para ex-empregados, empregado de confiança. Depois, em um nível mais sofisticado, usam offshore, empresas offshore”, diz Cléber Homem da Silva, auditor da Receita Federal.

Sabe matrioska? A boneca russa que você pensa que é uma, mas que na verdade são várias? Certas organizações funcionam assim. Mario Peixoto comanda uma rede de empresas de prestação de serviços que atuam em vários setores, mas que tem um foco particular na área da saúde. E, com a pandemia do coronavirus, o estado de calamidade parece ter virado para elas uma oportunidade.

“Você sabe quando que a Covid vai acabar? No dia que o dinheiro que eles estão gastando acabar todinho. Eles estão comprando respirador que custava US$ 5.500 e eles estão comprando ele por US$ 55 mil”, afirma Luiz Roberto Martins Soares em gravação.

Os preços e as contratações dispararam junto com o desespero causado pela pandemia.

“Você sabe que fizeram um chamamento agora, para a construção de 1.400 leitos de campanha. Você sabe quem que foi escolhido? O Iabas. Você sabe por quanto? R$ 850 milhões”, diz Luiz Roberto Martins Soares em outra gravação.

O volume de serviços necessários para o funcionamento dos sete hospitais de campanha a serem geridos pelo Iabas, Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde, será enorme.

A Polícia Federal encontrou indícios de que o Iabas poderia contratar os serviços da organização criminosa.

“Nós realmente encontramos materiais ligados ao Iabas no meio do material telemático dos investigados. A quebra de sigilo bancário também já mostrou uma relação entre uma das empresas do grupo com a organização social Iabas”, destaca a delegada Fernanda Machado.

Por nota, o Iabas informou que em virtude de notícias vinculando hospitais de campanha no Rio de Janeiro a uma investigação, fará uma auditoria interna.

A defesa de Mario Peixoto informou por nota que a prisão preventiva dele foi decretada com base em especulações. E que seu patrimônio, assim como o de seu filho Vinicius, inclusive bens fora do Brasil, são declarados à Receita Federal.

A defesa de Paulo Melo esclarece que sua prisão foi decretada sem fundamento e baseada em suposições.

O advogado de Luiz Roberto Martins informou que só vai se manifestar depois de analisar todos os autos do processo.

A defesa de Alessandro Duarte disse que a prisão dele é arbitrária e que os diálogos colhidos na investigação serão esclarecidos durante o processo.

Organização social é o termo que define uma instituição que não tem fins lucrativos. Claramente, isso foi desvirtuado porque a atividade pode dar muito dinheiro.

Luiz Roberto Martins Soares: “Eles estão com respiradores de R$ 32 mil. Tem gente do estado querendo que coloque na nota 250 mil.Depois vai todo mundo preso. Depois que passar isso aí, nós vamos ter uma nova Lava Jato.”

Ele só errou nisso. As prisões chegaram antes do fim da pandemia.

(Fonte: G1 – Fantástico)

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