Os programas anunciados ontem incluem 7.500 quilômetros de rodovias e 10 mil de ferrovias. O uso das estradas de ferro deverá ser aberto a todos os interessados no transporte de cargas. A Valec – estatal vinculada ao Ministério dos Transportes – comprará a capacidade integral das empresas ferroviárias e venderá o uso da malha aos interessados. “Trata-se de um resgate da participação do setor privado em ferrovias, mas pelo fortalecimento da estrutura de planejamento e regulação”, disse a presidente.
Ela poderia ter dito algo mais sobre essa “estrutura”, se estivesse disposta a lavar roupa suja. Demissões no Ministério dos Transportes foram o começo da faxina parcial empreendida em 2011 no governo federal. A presidente foi praticamente forçada a afastar ministros e altos funcionários envolvidos em enormes bandalheiras. O presidente da Valec, José Ferreira das Neves, o Juquinha, foi afastado naquele ano e preso em 2012 pela Polícia Federal, acusado de participação em esquemas de superfaturamento e desvio de recursos. Ele foi presidente regional, em Goiás, do PR, partido agraciado no governo Lula com o Ministério dos Transportes. Ao falar sobre planejamento e regulação, a presidente seria mais convincente se lembrasse a devastação da máquina pública promovida por seu antecessor, quando loteou e aparelhou a administração.
Para cuidar dos projetos ferroviários, a Empresa de Trens de Alta Velocidade (Etav) será transformada em Empresa de Planejamento e Logística (EPL). Criada para cuidar do trem-bala, a Etav deverá, portanto, enfrentar uma responsabilidade muito maior. O projeto do trem-bala continua emperrado – só o custo estimado se moveu, para cima -, e o governo agora promete uma licitação para breve.
A presidente Dilma Rousseff reconhece, enfim, a necessidade urgente de medidas estruturais para tornar o País mais eficiente. Até agora, ela agiu a maior parte do tempo como se o Brasil enfrentasse apenas problemas conjunturais, decorrentes da crise global. Mas o desafio é muito mais amplo e a competitividade é o ponto central. Admitir esse ponto é um avanço. Para tomar as medidas necessárias, mesmo com a participação do setor privado, o governo precisará, no entanto, de competência gerencial. É o primeiro obstáculo.
(Fonte: Estadão)