A crise reacendeu a promessa da construção de uma ponte nos moldes da Rio-Niterói, orçada em 7 bilhões, com licitação prevista para o ano que vem.
Congestionamentos de dezenas de quilômetros que marcam a saída de São Paulo a cada feriado se espalharam por outros pontos do país e já atingem situações piores que as das estradas rumo à Baixada Santista.
Neste feriado de Carnaval, a expectativa é que o motorista que pegar rodovias como a BR-101 em direção a Santa Catarina enfrente horas no trânsito. Só de Curitiba a Florianópolis, uma viagem de 290 km que demora quatro horas têm levado até dez horas nos feriados.
Balneário Camboriú é um dos piores trechos: só no feriado, o congestionamento chegou a 45 km, segundo a Polícia Rodoviária Federal.
No sul catarinense, próximo à cidade de Laguna, um trecho não duplicado da rodovia e considerado a principal ligação com o Rio Grande do Sul tornou-se um gargalo que chega a dobrar o tempo de viagem –de três horas e meia, em média, para oito.
No Paraná, os congestionamentos dos feriados, que antes se restringiam ao caminho para as praias, já chegam ao interior do Estado.
A viagem de volta para Curitiba durou até quatro vezes mais do que o normal no final do ano. Houve filas de até 23 km, mesmo em estradas duplicadas, como a BR-376. “Nunca vi um movimento como este. Tivemos fluxo intenso todos os dias, o tempo todo”, relata o inspetor Wilson Martinez, da PRF.
As principais rodovias do Paraná ganharam pedágios em 1998, mas até hoje não receberam os investimentos prometidos. A maioria das ligações entre as diferentes regiões é em pista simples.
Quando as rodovias com pedágio fluem bem, o motorista encontra problemas nos acessos estaduais. A PR-407, por exemplo, que liga a BR-277 às praias, passou o fim de ano engarrafada: ao menos 20 km de retenção.
O trânsito nas estradas também desafia motoristas em outras regiões. Em Minas Gerais, o maior gargalo está na BR-381, rota de quem segue da capital para o litoral do Espírito Santo.
Ali, uma viagem que costuma durar pouco mais que 7 horas pode chegar a 13 ou 14 horas em vésperas de feriado, de acordo com a PRF.
A vilã dos mineiros é a combinação entre aclives e pista única em diversos trechos da rodovia federal. Quando há qualquer carreta no caminho, todos os veículos que seguem precisam andar na mesma velocidade.
Acidentes chegam a travar toda a extensão da via.
Nas vésperas de feriados, o tráfego não costuma parar totalmente, mas os veículos seguem em ritmo lento. Os congestionamentos atingem até 50 quilômetros.
SETE HORAS NA FILA
Na Bahia, o principal gargalo é o sistema ferryboat, que faz a travessia de Salvador para a ilha de Itaparica e coloca os motoristas em estradas que levam às praias do sul do Estado, como Ilhéus e Porto Seguro.
O “ferry” chegou a ficar sem nenhuma das sete embarcações possíveis por cinco horas na semana passada.
No final de setembro, o governo estadual rompeu o contrato que iria até 2031 com a concessionária responsável pela travessia, a paulista TWB, sob alegação de que o serviço era deficitário.
A intervenção, que seria provisória, dura até hoje.
O próprio governo já pede para as pessoas recorrerem às estradas alternativas, que precisam contornar a baía de Todos os Santos. A crise reacendeu a promessa da construção de uma ponte nos moldes da Rio-Niterói, orçada em 7 bilhões, com licitação prevista para o ano que vem.
Enquanto isso, as filas se multiplicam, sobretudo nos feriados. Na virada do ano, a espera chegou a sete horas.
Outros pontos críticos são a chamada Estrada do Côco (BA-099), que leva a destinos como Praia do Forte e Costa do Sauipe, e a BR-324, que liga Salvador ao interior.
Em Pernambuco, os congestionamentos se concentram na BR-101 e na PE-60, em um trecho de cerca de 30 km, entre o Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca.
Uma viagem de 75 km entre Recife e Porto de Galinhas, que sem trânsito é feita em cerca de uma hora e 15 minutos, pode chegar a quase três horas. Para tentar agilizar o tráfego, o governo decidiu desligar lombadas eletrônicas no Carnaval e aumentar o número de agentes nos trechos de maior retenção.
Por: ESTELITA HASS CARAZZAI, FELIPE BÄCHTOLD, LUIZA BANDEIRA, NELSON BARROS NETO, FÁBIO GUIBU
(Fonte: Folha SP)