Notícias

Rio+20 é teste para novo centro de defesa cibernética

Leia entrevista com general José Carlos dos Santos, comandante do CDCiber, detalha a implantação do novo órgão, que faz sua estreia na Rio+20

Na entrevista abaixo, o general José Carlos dos Santos, comandante do CDCiber (Centro de Defesa Cibernética), detalha a implantação do novo órgão, que faz sua estreia na Rio+20, a Conferência da ONU para Desenvolvimento Sustentado, a partir de 20 de junho, reunindo cerca de uma centena de chefes de Estado e governo.

Folha – Vejo que o sr. está com “Cyber War”, de Richard Clarke. Acabou de ler?
José Carlos dos Santos – Estou no finalzinho. Às vezes uso até como fonte de consulta, porque apresenta muitos conceitos doutrinários e mesmo históricos, sobre o que ele considera que já começou, que é a guerra cibernética, embora eu não concorde. Até a questão do termo, ele é mais impactante…

É bom para vender livro.
É. Mas o que nós temos, na realidade, é uma nova arma, a arma cibernética. É uma arma de guerra, mas essa é bem diferente das demais, principalmente porque não tem fronteiras, há dificuldade de identificar o atacante. Realmente é um novo campo de batalha.

Clarke diz que um episódio de derrubada de energia no Brasil teria sido um ataque.
Ele cita, sim, um apagão no Brasil, mas não entra em muitos detalhes. Cita vários casos semelhantes nos Estados Unidos. É uma vulnerabilidade. É uma ameaça, sim, porque, com a automação dos sistemas, a telemetria pela internet está sendo cada vez mais comum. Hoje, a distribuição de energia é baseada em uma central de controle, em que você pode ligar, desconectar, desviar, pode redistribuir, tudo por uma rede de computadores. O sistema mais conhecido para controle industrial é o Escada, da Siemens, que permite o controle de hardware por meio de um software, de forma reduzida é isso. Como todo software pode ser alvo de um ataque cibernético, nós consideramos, sim, no futuro, essa possibilidade. Mas imaginarmos que haverá um ataque ao país, derrubando sistema elétrico, eu acho uma hipótese um pouco distante. Nós teríamos de estar num contexto de guerra, em que houvesse interesses adversários tentando paralisar nossa produção industrial paralisando nossa distribuição de energia elétrica. Mas teoricamente é possível, sim, causar um dano grande a um sistema de distribuição elétrica, principalmente pela automação e pelo uso intensivo, cada vez maior, das redes de computadores para controlar sistemas industriais, energia, tráfego aéreo.
Outro dia mesmo, como cliente, eu sofri o problema de uma companhia, cujo sistema caiu. Alguém pode até dizer, “ah, foi um ataque hacker”. É possível, é possível. A partir do momento em que a gente fica dependente das redes de computadores, tudo é possível. Isso leva as empresas, as agências governamentais, as Forças Armadas a ficarem atentas e buscar maneiras de nos precavermos contra essa hipótese.

Mais recentemente, Clarke afirmou que o episódio Stuxnet, o vírus que atacou no Irã, foi a abertura da caixa de Pandora.
É. E outras coisas piores virão.

Exatamente. O Brasil tem usinas nucleares desenvolvidas em projetos com a Alemanha. É uma das coisas que o sr. estuda hoje?
Nós estamos começando a estudar o assunto. O assunto é totalmente transversal, interessa não só à Defesa, mas à sociedade como um todo. Não conheço o sistema que controla Angra, mas, de qualquer forma, a distribuição da energia passa por esse sistema Escada. Então esse assunto está se tornando, sim, um assunto de preocupação de várias agências. Nós estivemos recentemente, no ano passado, na Eletrobrás para conversar sobre o assunto. Fizemos uma visita também ao sistema financeiro, no caso, a área de segurança do Banco do Brasil, trocando ideias sobre isso. E temos já algum trabalho, do próprio Rafael Mandarino, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República), alertando para essa hipótese e a necessidade de conscientizarmos gerentes de TI, empresas, agências, para que seja tomada alguma medida de proteção desses sistemas.
O Exército hoje trabalha por projetos. Ele tem alguns projetos denominados estratégicos. O setor cibernético é um deles; o Proteger, que trata exatamente da proteção das infraestruturas críticas, aquela preocupação com a segurança física, proteção das hidrelétricas, dos gasodutos, torres de transmissão, é outro; o Sistema de Proteção de Fronteiras, Sisfron, é um outro projeto estratégico; a viatura blindada Guarani, que implica no reequipamento de toda a força terrestre, um produto nacional. Enfim, temos sete projetos estratégicos e somos um deles. Eles se entrelaçam, a partir do momento em que esses sistemas de transmissão, de telemetria, de controle e monitoramento passam pelo setor cibernético. Como monitorar de forma segura? Como não termos esses nossos sistemas invadidos por pessoas não autorizadas? É uma preocupação inicialmente no aspecto gerencial, de que há necessidade de prover essa segurança. Então, eu acredito que, na evolução, nós teremos uma integração de todos os sistemas, em alguma central, vamos supor, do Ministério da Defesa para os sistemas militares e de alguma agência civil voltada para essa estrutura.

Nessa estrutura, em que parte entra o CDCiber?
O CDCiber é o dever de casa do Exército. Porque, com a Estratégia Nacional de Defesa, os setores cibernético, nuclear e aeroespacial foram colocados no mesmo patamar de importância estratégica para o país. E no prosseguimento dos estudos sobre o assunto o Exército recebeu a incumbência de integrar e coordenar, no âmbito das Forças Armadas. O CDCiber foi uma dedução, do Comando do Exército, de uma missão que ele tinha que cumprir.

Related posts
Notícias

Prefeitura de Campinas abre licitação para obras em vias públicas

Obras serão direcionadas para a Avenida Suaçuna e Rua Armando Frederico Renganeschi; valor total…
Read more
Notícias

Licitação da Praça da Igreja Matriz é lançada em Anita Garibaldi

A informação foi confirmada pelo Prefeito, João Cidinei da Silva. A Prefeitura Municipal de Anita…
Read more
Notícias

Petrobras anuncia licitação para voltar a produzir petróleo no Amazonas

Companhia prevê contratação de quatro sondas terrestres para projetos na Bahia e no Amazonas. A…
Read more

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *