O temor do que a devassa da intimidade das operações da Delta pudesse trazer a público talvez não pesasse tanto, não fosse a informação de que a CGU espera apenas cumprir algumas formalidades para declarar a Delta “inidônea”, o que a impediria de participar de negócios com o setor público. O governo está ciente e aprova o veredicto de seu órgão fiscalizador. Tanto que prepara planos de contingência para enfrentar as consequências do banimento. Empreiteiras que ficaram em segundo lugar nas licitações conquistadas pela Delta poderão ser chamadas a substituí-la nas obras em andamento ou novas licitações serão preparadas. Nos casos mais urgentes, o Departamento de Engenharia do Exército assumirá o serviço.
Diante disso, é espantosa a notícia saída domingo neste jornal de que, no mesmo maio último que assistiu à descida da Delta aos infernos, ela continuou a arrematar novos contratos e ganhar aditivos em obras encomendadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A empresa é a principal prestadora de serviços do órgão. Detém 99 contratos ativos de construção, duplicação e, principalmente, manutenção de rodovias federais. Ao todo, o seu valor original, a que foram agregados R$ 172,5 milhões a título de aditivos, alcança R$ 2,5 bilhões, dos quais R$ 1 bilhão já pago. Em 16 de maio, quando desistiu de tocar o trecho baiano da Ferrovia Oeste-Leste, pelo que receberia R$ 574,5 milhões, a Delta foi aquinhoada pelo Dnit de Mato Grosso do Sul.
A superintendência local do departamento homologou uma licitação de R$ 30,9 milhões vencida pela Delta para melhorias em três BRs. Ela ainda faturou verbas federais em cinco Estados – sem falar no aditivo de R$ 16,7 milhões que a prefeitura do Rio decidiu desembolsar para a conclusão do Parque Madureira, na zona norte da cidade. Para continuar assumindo compromissos com a Delta como de costume, o Dnit alega sem corar que a CGU ainda não declarou a inidoneidade da firma. É assim que funciona.
(Fonte: Estadão)