Itamaraty vê problemas no Afeganistão como causa do cancelamento do processo de compra vencido pela Embraer
A decisão da Força Aérea dos Estados Unidos (Usaf) de cancelar a compra de 20 aviões A-29 Super Tucano, da Embraer, foi comemorada ontem pela concorrente americana Hawker Beechcraft, por dar-lhe chance de vitória numa nova licitação.
A abertura de um novo processo de escolha, entretanto, não é considerado provável pelo Itamaraty. Para a diplomacia brasileira, o cancelamento se deveu a uma mudança recente na decisão do governo americano de entregar os aviões ao Afeganistão.
Internamente, circulou no Itamaraty a versão de que o aumento da insegurança para as forças americanas no Afeganistão, desde o incidente da queima de exemplares do Alcorão, levara Washington a suspender seu compromisso de entregar 20 aviões à força aérea afegã, ainda em fase de formação.
Dois militares americanos que atuavam como consultores em ministérios do Afeganistão foram mortos, e outros sete foram feridos por causa do incidente. Os EUA retiraram todo o seu pessoal de apoio no governo afegão na semana passada.
A leitura do Itamaraty, se confirmada, será como um balde de água fria nas ambições das duas concorrentes à venda de aviões leves de ataque para a Usaf. A Embraer prepara-se para revidar ao final da investigação aberta pela força aérea americana sobre o processo de licitação. Teria como apoio, nos EUA, o lobby do governo da Flórida, onde está atualmente instalada para a produção local de jatos executivos. A Hawker, desqualificada nessa concorrência por não cumprir requisitos, vê-se fortalecida pelo lobby político do Kansas, Estado onde produziria os 20 aviões.