As manifestações dos moradores começaram ainda sabado (25), com um ato ecumênico em que os representantes religiosos apelavam para que os moradores participassem ativamente das reivindicações ao Poder Público. Realizado na Igreja Anglicana da Rua Paschoal Carlos Magno, em frente ao local em que ocorreu um acidente com o bonde, em 2009, o evento foi discreto, contando com 20 moradores, a maioria integrante da Amast e do movimento O Bonde Que Queremos. No acidente de 2009, uma pessoa morreu.
Todos estes líderes espirituais nos ajudaram muito quando ocorreu o acidente, não só nos dando conforto espiritual, mas também nos mantendo firmes na luta, disse a moradora Nilce Azevedo, que pertence ao movimento e ajudou a coletar as 14,5 mil assinaturas levadas ao governo estadual.
O movimento O Bonde Que Queremos alega que o governo trata com descaso a questão do transporte em Santa Teresa, bem como o próprio bairro. Os moradores relatam que Santa Teresa tem sofrido forte pressão imobiliária, por sua proximidade com o centro e veem nisso o motivo do descaso. Eles alegam que o interesse seria aproveitar os casarões antigos do bairro como restaurantes e hotéis para os grandes eventos, como aponta o reverendo Luiz Caetano, que mora em Santa Teresa.
Morador do bairro há 64 anos e um dos fundadores da Amast, Vicente Sábato, também se queixa do descaso com a segurança do transporte. Sempre procuraram impedir o bonde. A primeira virada do bonde foi em abril de 1981. A associação já reclamava providência. À época, a diretoria da Amast foi presa, junto com outros moradores e eu, que não estava na associação, mas era advogado dela, relembra, explicando que foram levados ao Departamento de Ordem Política de Social (Dops) e, ali, interrogados.
Sábato diz ainda que a manutenção das características históricas é a garantia da permanência do bonde, tombado como bem cultural pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A recuperação é possível, com manutenção. Segundo ele, a Central, que opera o sistema, recuperou 14 bondes há pouco mais de dez anos.
Os moradores alegam que o sistema funciona, nos moldes históricos, com o bonde aberto, capaz de transportar até 80 pessoas, e discordam do modelo posto em licitação ainda em 2011, baseado em bondes portugueses, de 24 lugares, fechados e capazes de atingir maior velocidade. O bonde é popular, está fazendo agora 116 anos e ele dá identidade cultural ao nosso bairro. Ele nos faz andar calmos, ter o privilégio de andar distantes do tumulto da cidade. Sem o bonde tudo se perde, reclama Nilce.
Além da via legal, com o acionamento do Ministério Público, os moradores buscaram a conversa direta com o governo do estado, levando representantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) estadual e do Sindicato dos Engenheiros à Secretaria Estadual de Transportes. Mas, de acordo com a presidenta da Amast, Elzieta Mitkiewicz, na ocasião em que eles se reuniram com o governo, as propostas não foram consideradas.
[Este projeto licitado] é um microônibus sobre trilhos. As pessoas querem o bonde como ele sempre foi. Não tem de inventar e mudar o modelo do bonde, ele virou [tombou] por falta de manutenção.Edição: Lana Cristina
Por: Guilherme Jeronymo
(Fonte: Agência Brasil)