Não se quer dizer com isso que todos os 340 deputados e 67 senadores que subscreveram o pedido da CPMI – um número impressionante, vindo de onde veio – foram movidos por razões menos limpas do que a da busca da verdade no que parece ser um arranha-céu de corrupção com andares inteiros compartilhados pelos Poderes da República, delinquentes profissionais e empresas associadas a uns e outros. Mas não resta dúvida de que o cálculo político foi o que mais pesou na decisão de recorrer à mais poderosa ferramenta de investigação ao alcance do Legislativo – para bem do interesse público. Aliás, não passa dia sem que vazem novas evidências de que são mais estreitos, até do que parecia inicialmente, os vínculos entre o bicheiro Cachoeira, o governador Perillo, o senador Demóstenes e a construtora Delta. Já na esfera política chamam a atenção os fortes sinais de que o PT não recuou propriamente da proposta do inquérito ao se dar conta, segundo o noticiário, de que os seus perigos potenciais para o Planalto seriam maiores do que os ganhos visados pelo partido. Essa posição foi defendida, pelo menos em público, apenas por um punhado de seus parlamentares.
Quem não esconde a ojeriza à “CPI do PT”, alegando os riscos imponderáveis que cria para o governo, são os caciques do PMDB. Não deixa de ser verdade, mas é lícito supor que o governo que têm em mente – sabendo que a investigação mergulhará nas operações da Delta – é o do correligionário Sérgio Cabral, amigo íntimo do dono da empreiteira, Fernando Cavendish.
Em 2009, este se jactou de como é fácil ganhar licitações, subornando políticos. No primeiro mandato do governador fluminense, o Estado repassou à empresa R$ 1,1 bilhão, dos quais R$ 148 milhões referentes a contratos sem licitação. No atual segundo mandato, já foram outros R$ 582 milhões. Na terça-feira, Cabral nomeou uma comissão de sindicância para auditar os contratos com a construtora.
(Fonte: Estadão)