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O Mutirama de que ninguém quis falar

“Quando vi o edital, não pensei em outra coisa. Era um projeto em que eu poderia ganhar dinheiro fazendo o trabalho que eu gosto. Mas nunca me interessou a parte legal da licitação. Isso eu deixei com quem conhece o assunto, que são meus advogados e contadores. O que me conquistou foi o memorial descritivo”, revela. O memorial é a peça anexa ao edital que detalha o que deveria constar de cada um dos brinquedos, bem como a decoração acessória — monumentos espalhados pela área do parque que vão contar a história de Goiás, do Brasil e do mundo e levarão as crianças e demais visitantes a se informar enquanto se divertem.

E é com diversão que Adilson Capel trabalha há 32 anos, desde que, por um acidente — no sentido real e também metafórico (leia matéria correlata)— se tornou funcionário do Playcenter, em São Paulo. Por isso, ele não deixa de transparecer certa ironia ao falar sobre o questionamento à capacitação técnica de sua empresa para executar a obra — outra das alegações de irregularidades no contrato firmado entre a Prefeitura e a Astri. “Quem é que detém o acervo técnico da empresa? É seu responsável técnico. Por quê? Porque há uma resolução do Confea [Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia] que diz que o acervo técnico não pode ser emitido para pessoa jurídica. Nosso acervo preenche completamente todos os requisitos, porque os técnicos que estão aqui trabalham comigo há anos”, declara.

Ele não entende a discussão jurídica e política em que se envolveu. “Estou aqui para trabalhar, para fazer o que sei de melhor. E, no que depender de mim, entrego o parque no prazo contratado.” A única dúvida é sobre o teleférico, cuja finalização depende também das questões climáticas, motivo que levou Adilson a montar uma planilha dos índices pluviométricos de Goiânia para o período.

A desenvoltura com que o dono da Astri fala do empreendimento mostra que, para ele, não há realmente nada de complexo na obra, como chegou a sugerir um parecer da própria Controladoria-Geral do Município (CGM), que, em um efeito cascata, acabou por originar as mesmas suspeitas do Tribunal de Contas do Município (TCM) e que agora foram cobradas na Justiça pelo Ministério Público Estadual. Uma obra complexa não poderia ser licitada como pregão, o que se tornou mais um ponto de polêmica na questão.

Na visão de Adilson Capel, tudo é fruto do desconhecimento de como é a atividade do setor. Ele exemplifica: “Por mais que a indústria aeronáutica seja desenvolvida, brinquedos de parques de diversões são uma excentricidade, algo complexo e raro, para esse tipo de indústria. Afinal, eles não produzem rodas-gigantes e montanhas-russas. Por isso, a lei se prende à complexidade da obra dentro do âmbito em que ela se insere.” Adilson dá o exemplo do que seria uma obra complexa em seu ramo: um parque da Disney, com orçamento na casa de bilhões de dólares, em que se gasta até uma década entre planejamento e execução. “Pregão era a forma mais simples, mais gente poderia participar. Quando eu vim fazer a vistoria técnica, tinham três concorrentes fazendo a mesma coisa.”
Imprensa

Um fato chama a atenção: apesar de estar no olho do furacão político-eleitoral — as implicações que a inauguração ou a paralisação das obras do Mutirama têm em ano de eleições municipais —, Adilson Capel praticamente não foi procurado para dar esclarecimentos sobre o andamento das obras. Em mais de seis meses, somente quatro vezes ele atendeu veículos de comunicação — duas vezes a Rádio 730 , uma a Rádio 107 FM, de Aparecida, e o jornal “O Popular”, enquanto a imprensa acompanhou visita do prefeito Paulo Garcia (PT) às obras.

Não deixa de ser estranho um personagem-chave não ter sido procurado para esclarecer fatos — ou pelo menos para que conhecessem o que estava ocorrendo com as obras do parque, na versão dele. “Ficou também esse mito de segredo em torno do Mutirama, mas nunca impedi ninguém de entrar aqui. Pelo contrário, certa vez convidei uma repórter da TV Globo que filmava na calçada, do lado de fora. Perguntei por que ela não entrava e ela me disse espantada: ‘Mas pode?’ Falei ‘claro, por favor’. Não há nada para esconder.”

Por: Elder Dias
(Fonte: Goiania Br)

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