As fontes apontam que várias propostas foram riscadas a lápis por um dos jurados, sublinhadas e com vários grifos – fato que poderia induzir os votos na visão dos recorrentes. Além dessas anotações no material a ser julgado, eles relatam a existência de comentários escritos, tais como uma passagem onde se lê “fez o dever de casa direitinho”.
Mas não foram apenas as observações pessoais dos jurados que causaram espécie nos participantes. A falta de atenção dos mesmos julgadores a critérios didáticos no mundo da propaganda também foi alvo de descontentamento, como o excesso de palavras na proposta de mídia exterior (outdoor). Enquanto o mercado convenciona a utilização de até sete palavras, algumas propostas extrapolavam esse “limite” e receberam boas notas.
Os principais questionamentos estão relacionados, entretanto, ao processo de leitura das propostas classificadas, o que seria passível até mesmo da anulação do certame. As agências recorrentes narram uma série de incidentes com erros grosseiros na atribuição das notas, inclusive algumas acima do teto estabelecido na disputa. Enquanto o edital previa a nota máxima de 6,5, aparecem entre os resultados notas maiores (uma mesma agência teria recebido notas 7,3 e 6,8).
Durante esta fase, a comissão licitante alegou erro na equação do sistema (feito pelo software Microsoft Excel, bastante utilizado no dia a dia) e corrigiu as notas que estavam acima do limite. Nos recursos, as agências recorrentes questionam se as outras notas – que ficaram abaixo de teto –, partindo do mesmo princípio, também poderiam ter sofrido erro do programa. Eles alegam que o mesmo erro teria ocorrido em outras células, mas que as concorrentes não conseguem identificar os problemas por contas das notas dentro do limite.
Nem mesmo os requisitos do edital teriam sido considerados pela comissão licitante. Os recorrentes identificaram que a agência Ampla Comunicação – vencedora de dois dos lotes do certame – não apresentou os pedidos de inserção (PIs) nas propostas, fato que impossibilitaria ao concorrente justificar a estratégia descrita na apresentação e mensurar os percentuais de utilização dos meios escolhidos. Tal documento seria obrigatório no edital, mas acabou sendo desconsiderado no julgamento.
Uma outra obrigatoriedade, a inclusão de peças corporificadas (exemplo de uma campanha real), foi julgada de formas diferentes. Durante o julgamento das propostas, uma mesma agência teve a proposta desclassificada em um lote, por apresentar duas peças soltas, enquanto saiu vencedora em outro lote, mesmo com cinco peças a mais na proposta.
As infrações supostamente cometidas pelas agências vencedoras chegaram, segundo aponta fontes ligadas ao certame, à falta de “recursos humanos” para atendimento do governo. As agências locais questionam a escolha da agência paulista Giacometti & Associados Comunicação Ltda, vencedora do lote 01, responsável pela conta de toda Secom.
A agência recebeu nota máxima pelo currículo dos profissionais, porém, as recorrentes alegam que o staff listado engloba todos os funcionários das seis filiais da agência no País – número insuficiente para atender as filiais já existentes e o compromisso com o governo capixaba.
Ao todo, o edital prevê que o valor dos contratos chegue a R$ 49,89 milhões, pelo prazo de 12 meses. No entanto, fontes do mercado avaliam que o total de verbas destinadas à publicidade pode girar em torno de R$ 62 milhões, considerando a assinatura de aditivos contratuais em até 25% dos vínculos.
Pelo resultado homologado no último dia 29, a agência pernambucana Ampla Comunicação venceu dois lotes (lotes 03 e 05, cujos contratos prevêem gastos publicitários de R$ 19,9 milhões), a carioca Contemporânea Ltda. arrematou o lote 02 (estimado em R$ 9,94 milhões) e a capixaba MP Publicidade venceu o lote 04 (avaliado em R$ 10,05 milhões). A novidade na lista é a Giacometti & Associados Comunicação Ltda., que arrematou o lote calculado em R$ 10 milhões.
Por: Nerter Samora
(Fonte: Seculo Diario)