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Prefeitura quer vender área de usina de asfalto

Alvo constante de reclamações de vizinhos pela poluição, fábrica pode ser transferida para que terreno na Barra Funda seja trocado por creches

A Prefeitura de São Paulo quer trocar por creches a usina de asfalto da Barra Funda, na zona oeste. Há décadas, o local é alvo de denúncias de dano à saúde de vizinhos, por causa da fumaça e da poluição. A ideia do prefeito Gilberto Kassab (PSD) é fechar a fábrica e vender o terreno de 19,7 mil m² para construtoras interessadas em seu potencial imobiliário. O pagamento não seria feito em dinheiro, mas em creches prontas em outros locais da cidade.

 

Ontem, no Diário Oficial da Cidade, a Prefeitura anunciou a montagem de uma comissão para estudar quais áreas industriais da capital estão aptas a receber a usina, mas não há prazo para o fim dos trabalhos. A transferência foi pedida pelo Ministério Público Estadual, que propôs a assinatura de um acordo para acabar com a emissão de gases tóxicos, que têm causado problemas de saúde nos moradores do entorno. O complexo produz 2,5 mil toneladas diárias de asfalto para recapear as vias da capital e trabalha dia e noite.

 

Além da pressão da Promotoria, a transferência da usina de asfalto já havia sido pedida pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que já multou o local dezenas de vezes desde 1990. O Estado apurou que a mudança foi definida após o terreno ser incluído no plano de troca de terrenos municipais por creches – tentativa de Kassab de chegar o mais perto possível da meta de zerar o déficit de vagas na rede.

 

Um projeto de lei de autoria do Executivo que permitirá que o terreno seja alienado deve ser enviado à Câmara nos próximos dias. O valor venal de referência para a área é de R$ 17 milhões, mas há expectativa que a licitação renda bem mais. A antiga usina fica próxima de bairros valorizados, como o Pacaembu.

 

Comemoração. Às 21h15 de ontem, a 200 metros do endereço da usina, localizada na esquina da Avenida Pacaembu com a Marquês de São Vicente, a corretora de imóveis Aparecida Alves, a Cida, de 52 anos, limpava o quarto da caçula, Sara – uma rotina obrigatória para evitar as crises de bronquite da filha. “Por causa da usina, baixa um pó preto em todas as casas, que cobre o chão, móveis, janelas…”, conta. “Ela nasceu aqui e aos 3 meses já começaram a aparecer os problemas respiratórios.”

 

Sara, de 10 anos, toma dois antialérgicos por dia, tem um aparelho de inalação em casa e se trata com homeopatia. Ao saber pela reportagem que a usina, enfim, deve sair da vizinhança, ela pulou e deu um soco no ar, acompanhado de uma fala de alívio da mãe: “Graças a Deus. A médica tinha falado para a gente se mudar, mas não tenho como.”

 

A família de Cida mora há 12 anos na Vila Altieri, uma travessa fechada da Rua do Bosque, com 30 casas e cem moradores. “Minha filha tem rinite. Toda família tem algum tipo de problema por causa da usina”, diz a comerciante Nailda Anunciação, de 42 anos.

 

Por: Rodrigo Burgarelli e Fábio Mazzitelli
(Fonte: O Estado de S.Paulo)

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