Tudo isso –afirma-se– parece ter diminuído o apetite do capital estrangeiro de participar nos grandes projetos de desenvolvimento nacional e pode tornar desconfortável o financiamento do imenso deficit em transações correntes que vimos acumulando. Há aqui também, na nossa opinião, um evidente exagero por parte do setor financeiro.
Senão, como conciliar a dimensão dessas dúvidas com a recente ação concreta do capital estrangeiro? Primeiro, como explicar o tremendo sucesso do espetacular financiamento obtido justamente pela Petrobras que praticamente construiu uma “curva de juros”? É verdade que agora alguns analistas mudaram de posição: não é mais a falta de recursos da empresa, mas o nível de seu endividamento (que eles mesmos financiaram!) que é a nova preocupação… Segundo, como explicar a resposta do mercado ao lançamento do Banco do Brasil? E, finalmente, como negar o sucesso da 11ª licitação de blocos exploratórios de petróleo e gás, feito pela Agência Nacional do Petróleo, que arrecadou quase R$ 3 bilhões em bônus de assinatura de 142 blocos numa área equivalente a 100 mil quilômetros quadrados, depois de cinco anos de espera?
O último fato é mais do que relevante. Mostra como funcionou bem o regime de concessão construído no passado, o que sugere que talvez haja oportunidade para revermos algumas tarefas exageradas impostas à Petrobras no momento da euforia exagerada.
Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade de São Paulo. Escreve às quartas-feiras na versão impressa da Página A2.
(Fonte: Folha SP)