Quem vencer a concorrência terá de construir um shopping popular com boxes para 3.500 camelôs -hoje, cerca de 3.000 atuam no local-, um hotel com 208 quartos, duas torres comerciais com 545 escritórios e estacionamentos para ônibus e carros.
O concessionário ainda terá de restaurar a antiga estação de trem, tombada pelo patrimônio histórico, onde haverá comércio de produtos hortifrutigranjeiros, e pagar à prefeitura um valor, não definido, para explorar a área.
O local ainda deve ter creche, unidade de saúde, um prédio de 3.000 m² do Instituto Federal de Educação e 720 apartamentos populares.
O terreno, de 119,8 mil metros quadrados (cerca de 15 campos de futebol), foi cedido à prefeitura por 35 anos, prorrogáveis por outros 35.
O custo está estimado em R$ 400 milhões, valor que poderá ser financiado parcialmente pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O projeto foi feito pela EBP, uma empresa ligada ao banco.
A capital recebe cerca de 50 mil sacoleiros por dia -metade passa pela feira. A ideia é que ela vire o epicentro do que a prefeitura chama de “circuito de compras”.
Dali sairiam ônibus e vans para outros locais de comércio popular, como os bairros Brás e Bom Retiro e as ruas 25 de Março e Santa Ifigênia.
PROJETO PONTUAL
Álvaro Puntoni, urbanista, professor da USP e da Escola da Cidade, diz que o projeto pode ser bom, mas não leva em conta o planejamento da ocupação da orla ferroviária.
“Está desarticulado do plano maior de ocupação da cidade”, disse. A ocupação da orla ferroviária é o foco de duas operações urbanas em desenvolvimento na prefeitura (Lapa-Brás e Mooca-Vila Carioca), mas o Pari, onde fica a feira, não foi incluído.
“A orla ferroviária será ocupada pontualmente e perderemos a chance de que ela seja o instrumento de articulação metropolitana de que precisamos”, disse. Para ele, outra opção seria deixar o local vazio, com praça ou parque, e ocupá-lo com comércio e habitação no entorno.
MEMÓRIA
Protestos de ambulantes, disputas pelo poder e investigações sobre esquema de corrupção marcam a história da feira.
Criada em 2005 para absorver os camelôs que ocupavam as regiões da rua 25 de Março e do Brás, a Feira da Madrugada virou um negócio que chegou a ter 6.000 boxes, negociados a valores que variavam entre R$ 100 mil e R$ 250 mil, segundo a polícia.
Com apoio da PM, em 2010, a prefeitura fechou centenas de boxes ilegais. Também iniciou combate a camelôs que atuavam do lado de fora, o que gerou protestos e confrontos.
Até 2010, a feira estava nas mãos da GSA. Dez meses após a intervenção da prefeitura, o dono da empresa e ex-administrador da feira, Geraldo Amorim, foi assassinado. O crime foi considerado latrocínio.
Duas pessoas respondem a inquérito acusados de cobrar taxas de comerciantes. Um chefe de gabinete da subprefeitura da Mooca foi exonerado acusado de corrupção.
Hoje, a Cofemapp (associação de comerciantes da feira) cobra taxa de R$ 250 dos associados, o que, para a prefeitura, não é permitido. O vice-presidente da associação, Osvaldo de Jesus, o Osvaldinho da Feira (PRP), tenta vaga de vereador. Ele é aliado do candidato a prefeito Celso Russomanno (PRB).
(Fonte: Folha SP)