O instrumento do século XVIII vai à praça hoje em Inglaterra por 63 mil euros. Estado fica fora das licitações, “atendendo ao atual momento económico.”
É um exemplar raro do construtor Joaquim José Antunes o cravo que é leiloado hoje, às 10.00, em Donnington (Newbury, Berkshire), pela mão da leiloeira Dreweatts and Bloomsbury. Datado de 1785, tem uma parte exterior pintada de verde-escuro e pinturas de figuras clássicas na paisagem e a assinatura do seu autor. O preço base de licitação são 50 mil libras (63 mil euros).
O Ministério da Cultura (MC), ainda durante a passagem de João Soares pela pasta da cultura, e a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) tomaram conhecimento da existência deste instrumento no mercado, mas estão fora da corrida. “Reconhecemos o manifesto interesse histórico e patrimonial desta peça mas, atendendo ao atual momento económico, a sua aquisição em leilão não se afigura possível.”
O cravo pertencia até agora ao britânico Richard Burnett e foi comprado em dezembro de 1985 na Sotheby’s, por 33 mil libras (42 mil euros). “Valor tristemente irrisório”, segundo José Carlos Araújo, no site Glosas, onde se dedica a escrever sobre música clássica nos países de língua portuguesa. O autor lembra que foi Richard Burnett que restaurou o cravo. O autor defende a compra do quadro. “O lugar deste instrumento é em Portugal e esta poderá ser a última ocasião para reparar o crime de lesa-pátria que os responsáveis pelo Património Cultural que exerciam (melhor, que não exerciam) as suas funções em 1985 cometeram.”
Pianista e colecionador de pianos, cravos e outros instrumentos da mesma família, Burnett e a mulher, Katrina, mantinham um museu musical em Kent num edifício georgiano que há um ano decidiram vender, desfazendo-se de metade da coleção. Uma parte do recheio de Finchcocks, assim se chama a mansão, fica com o casal, a restante está neste leilão constituído por 99 lotes. As receitas revertem para financiar técnicos e afinadores de instrumentos, de acordo com a BBC.
O museu foi fundado 45 anos. Burnett comprou a casa em 1970 para albergar os mais de 100 instrumentos da sua coleção. A 31 de dezembro fecharam as portas, por ser demasiado grande para gerir, coincidindo com a reforma dos músicos. A oficina de afinação dos instrumentos já não trabalhava todo o dia como antes, disse Katrina Burnett, 78 anos, à imprensa britânica.
Embora raro, o cravo que vai a leilão não é caso único. Existem dois do mesmo período, e do mesmo fabricante, no Museu da Música, de acordo com o ministério da Cultura. Um destes cravos é Tesouro Nacional. Um está em boas condições e é usado para concertos, o outro precisar de ser recuperado.
(Fonte: DN)