O Diário Catarinense entrevistou os seis candidatos à prefeitura de Joinville. Confira abaixo a entrevista com o candidato Udo Döhler (PMDB):
O trabalho do governo Raimundo Colombo em Joinville está aquém do que deveria?
Joinville reclama uma atenção muito maior por parte do governo do Estado, em todas as áreas. Não só na área de segurança, que hoje está na ordem do dia. O nosso efetivo policial, que já foi de 1,4 mil policiais, hoje é em torno de 700. O efetivo diminuiu, a cidade cresceu, a violência da mesma forma. Mas isso vale para tudo, vamos dar o exemplo da saúde. Joinville aplica hoje na saúde 40% do seu orçamento. Ou seja, quase três vezes mais do que manda a Constituição, que são 15%. Temos um hospital municipal que cuida de média e alta complexidade. É uma obrigação do Estado. O município deve cuidar apenas da saúde básica. O maior hospital do município é um hospital municipal, que hoje consome dos nossos R$ 65 milhões da nossa folha de salário, R$ 10 milhões. O município não pode arcar com isso porque atende os municípios vizinhos, como Itapoá, Garuva, Guaramirim, Araquari, Barra do Sul, São Francisco e por aí afora. Que não dispõem dessa infraestrutura. Então o Estado, como não consegue dar cobertura de saúde adequada nesses municípios vizinhos, vai ter de socorrer Joinville de forma mais efetiva.
O que fazer para estar essa sangria e a saúde deixar de ser a grande preocupação da cidade?
Fazer com que o governo do Estado perceba que esse ônus não pode ser do município, tem de ser do Estado. O Estado tem de assumir sua parte.
Assumir o São José?
Assume o São José ou estadualiza… Aliás, falando nisso, a única cidade de porte médio que tem hospital municipal é Joinville. Florianópolis não tem, nem Itajaí, nem Blumenau, nem Lages, nem Criciúma, nem Chapecó. E nós estamos com um hospital aqui, nós… Estamos administrando o hospital, e não queremos fugir desse compromisso se for necessário, mas não podemos fazê-lo penalizando o município. Isto é perverso. Ou seja, o munícipe, o joinvilense está pagando a conta que hoje é dever do Estado. Então, esse modelo precisa mudar. Federalizar o hospital, ou estadualizá-lo, fazer com que o Estado compareça e possa ressarcir o município do que ele investe…
Há quatro anos o senhor disse que o problema da saúde é gestão. Está convencido de que não é só gestão?
Não. É gestão. Continua sendo gestão. Vou dar um exemplo. Se olharmos para Joinville, o que fizemos com a saúde? Se olharmos para o IDH, o IDH da saúde de Joinville é de 0,91, o melhor do Estado. A melhor saúde distribuída no Estado está aqui em Joinville, nem na Capital do Estado. Isto é gestão. O Hospital São José, que teve sua capacidade ampliada em 30% durante quatro anos, o fizemos logo no primeiro ano de governo. Dos nossos 58 postos de saúde, dos quais nenhum tinha licenciamento, nenhum com 20 ou 30 anos aí, nenhum tinha licenciamento. Hoje nós licenciamos, ou seja, reformamos e ampliamos 18 unidades das nossas 58. Até o final do ano serão 21, mas já temos um TAC para nesses próximos anos deixar todas essas unidades licenciadas. Isto é gestão. Nós temos três PAs. O PA Leste está em ordem, o PA Norte foi totalmente reformado, o PA Sul está sendo ampliado, as obras já estão em execução. Feito isso, a gestão está perfeita. O que não funciona é a distribuição do recurso. A gestão está adequada, a distribuição do recurso está inadequada. Quando chegamos à prefeitura, tínhamos uma fila de 174 mil consultas. Reduzimos para 70 mil. Isto parece surpreendente e inédito, mas isto não tem nenhum significado se nós não compararmos essas consultas hoje represadas, que se constituem em menos da metade daquelas que existiam em janeiro de 2013, se nós não a projetarmos com nossa capacidade de produção de consultas. Hoje, o município produz 30 mil consultas mensais, o que equivale a dizer que, em dois meses e meio, toda a população estaria atendida, quando essa fila no passado ultrapassava um ano. Uma consulta de ortopedia que levava nove meses, hoje leva 30 dias.
Por que o joinvilense vê na saúde um problema maior do que se observa em outras cidades?
A população joinvilense é exigente e ela tem razão para ser exigente. Porque aqui nós trabalhamos fortemente, o tempo todo. E quem trabalha tem o direito de reclamar. O que nós queremos aqui é uma saúde de primeiro mundo. Se nós olharmos para a saúde que se distribui no Estado ou no país nós vemos hospitais fechados, sucateados. A saúde pública no país apodreceu. Se nós olharmos para a saúde pública em Joinville, os nossos hospitais estão em ordem, os postos de saúde funcionando, os médicos em três anos e meio multiplicaram a produtividade por duas vezes e meia. Então, ela é bem… E mesmo assim nós reclamamos. Quando chegamos em 2013, dos nossos 236 medicamentos do SUS, faltavam 40 ou 50. Hoje faltam cinco, seis, sete porque é natural. Nunca se consegue essa entrega total dos medicamentos. No entanto, a imprensa anuncia que faltam 30 ou 40 medicamentos. Só que lá no rodapé da matéria diz que são medicamentos de média e alta complexidade que o Estado deve fornecer. Se o Estado não fornece isso, não é justo que o município o faça.
O senhor enfrentou um pedido de abertura de comissão processante na Câmara por entendimento do MP que não cumpriu ordens judiciais. Como o senhor vê esse evento e sua relação com o MP em um segundo mandato?
Nossa relação com o Ministério Público tem sido sempre amistosa. Tivemos uma judicialização forte na área da saúde, que não é privilégio de Joinville, ocorre no pais inteiro. Essa judicialização incomoda, mas o nosso relacionamento com o MP é o melhor possível, temos construído diversos termos de ajustamento de conduta que estão sendo rigorosamente cumpridos. Melhoramos, avançamos fortemente nisso. Não fosse assim, estaríamos nos incomodando. Ao longos desses três anos e meio de governo não tivemos nenhuma licitação nossa anulada ou ruídos, vícios, desvios de conduta.
O senhor vem da vida empresarial. Nesses quatro anos aprendeu a falar a língua da política, língua dos vereadores?
Deixa eu me referir a algo que está acontecendo recente agora, a comissão, a CPI do Ipreville. Curiosamente, ao longo de tantos anos. Nem dessa gestão, nem de gestões anteriores. Esse assunto nunca foi levantado e de uma hora… Porque é uma situação totalmente regular. Hoje, o Instituto de Previdência do servidor municipal mais sólido do país é o nosso. O município cumpre rigorosamente com as suas obrigações e, curiosamente, só quando se abre o processo político é que se instala uma CPI, isso é uma coisa curiosa. Houve tempo suficiente… Nem dessa gestão, podia ter feito em gestões anteriores. Mas, curiosamente nesta gestão, exatamente quando se abriu o prazo do processo eleitoral que essa CPI se instaurou. Ela é meramente política.
Como é sua relação com a Câmara e como espera que seja no segundo mandato?
É um relacionamento bom. Tanto assim que, quando chegamos aqui, a primeira coisa que aconteceu, nós encaminhamos à Câmara de Vereadores nossa grande reforma, que foi reduzir em um quarto o número de comissionados. Isto aconteceu, foram 200 e tantos cargos que foram suprimidos. Criamos as subprefeituras, deixaram de existir 14 secretarias regionais, cada uma com sete chefes. Hoje temos oito subprefeituras, cada uma com três chefes. A população ficou mais próxima do município, um modelo que vem funcionando. Encaminhamos no ano seguinte uma segunda reforma, que transforma a Fundação do Meio Ambiente em uma secretaria. Isto trouxe um avanço que permitiu que pudéssemos informatizar os licenciamentos daqui para frente, o que é inédito no país. Juntamos Administração e Planejamento, acabamos com o Instituto de Trânsito, incorporamos Defesa Civil e Segurança Pública. A gestão pôde ser compactada, isto otimizou recursos e agilizou processos.
Pretende fazer nova reforma?
Ainda há espaço para melhorarmos o desempenho dos diversos órgãos do município. Vamos trabalhar nesse sentido.
O senhor havia prometido uma meta ousada de pavimentação (300 quilômetros) e não conseguiu fazê-la. Se arrepende da meta?
Não, nem um pouco. Não me arrependo dessa meta. Coincidentemente, esse número, 300, também coincide com a dívida que nós herdamos do governo anterior. Foram R$ 300 milhões, dos quais só com fornecedores eram R$ 100 milhões, que nós acabamos transformando numa novação de dívida que estamos pagando. Até o final do ano todos os fornecedores estarão com os seus (…) passados e liquidados. Tínhamos um atraso de pagamentos de até quatro anos. Hoje nossos atrasos médios não ultrapassam a 90 dias, quem sabe um mês mais, um mês menos. O município estava numa situação quase de recuperação judicial, hoje recuperamos o crédito. Tanto assim que os bancos internacionais, como o BID, ele está nos entregando U$ 70 milhões, o Fonplata nos ofereceu outros U$ 40 milhões, são U$ 110 milhões que dependem apenas do aval do governo federal. E agora com o presidente Temer esse aval vai acontecer, isso vai permitir com que a gente possa resolver todo o problema de drenagem da zona Sul, construir uma ponte importante que vai ligar o Adhemar Garcia ao Boa Vista.
Também era uma promessa do primeiro mandato…
Isto, tanto assim que esses recursos estavam assegurados pelo Banco do Brasil em um entendimento com o governo do Estado. Mas o Banco do Brasil teve seus recursos escasseados e perdemos essa oportunidade. Nesse entretempo o que aconteceu? Uma supresa muito grande. Quando chegamos, o banco Fonplata, que tinha financiados os nossos parques – apenas havia sido executado o Parque da Cidade – disseram que iriam rescindir o contrato conosco. Insistimos em manter o contrato. Isto permitiu que revitalizássemos o Zoobotânico, construíssemos o Porta do Mar, Parque São Francisco, Mirante do Boa Vista. E o Fonplata avisou “olha, como o Banco do Brasil não tem mais capacidade de financiar essa ponte, nós nos oferecemos e estamos disposto a oferecer ao município de Joinville U$ 40 milhões”. Isto mostra que desenvolvemos um bom trabalho. Se não tivéssemos esse passivo de R$ 300 milhões, na transição parecia que isto seria apenas R$ 40 milhões, e se nós esbanjarmos aí no número, com esses R$ 300 milhões teríamos pavimentado 500 quilômetros de rua. Mas tivemos que fazer uma opção. Como estávamos diante desse quadro, o que era mais importante: pavimentar ou dobrar as vagas nas creches? Tínhamos 10 mil vagas nas creches. Hoje são quase 20 mil crianças nas creches. Isto nos obrigou a contratar 450 funcionários. Por que fazer isso? Se aumentarmos em 10% ou 20% as vagas nas creches, já seríamos campeões nacionais. Mas dobramos as vagas. Se não fizéssemos, as famílias iriam arcar com esse ônus. Nada aconteceria nos próximos anos, mas em cinco, dez anos, teríamos todas essas crianças mal cuidadas e mal amparadas. Foi uma questão de opção. Se voltarmos à questão da educação, das nossas 148 escolas tivemos que ampliar e reformar 112. 20 com o risco do teto cair. No Caic Francisco uma reforma de R$ 2,4 milhões. Nossas escolas não tinham ar-condicionado. Hoje todas têm. Tablets para os alunos, notebooks para os professores, lousas digitais. Foi a opção que fizemos. Entendemos que o investimento na educação e na saúde… Ora, se falar em saúde, dos nossos 58 postos, sabe quantos tinham licenciamento, alvará? Nenhum. Postos que funcionaram durante 20, 30 anos sem alvará. Hoje 18 já foram reformados, ampliados, até o final do ano serão 21 e nos próximos dois anos todos os postos de saúde estarão regularizados. Foi uma opção. Isto acabou acontecendo em um momento de crise, com a receita caindo em 15%. Fomos advertidos em julho do ano passado de que não pagaríamos 13º salário. E dissemos que iríamos fazê-lo. Construímos um plano de redução de despesas de R$ 60 milhões, que corresponde mais ou menos a uma folha de pagamento, que é de R$ 65 milhões. Reduzimos drasticamente aluguéis, frota de veículos, isso nos permitiu essa economia. Pagamos o 13º, o salário de dezembro. Disseram que em março a prefeitura teria dificuldades de pagar salário. Pagamos o salário de março, de julho, estamos pagando o salário de agosto, reajustamos os salários pelo INPC, poucos municípios de Santa Catarina o fizeram. 70% dos municípios do Estado já estão inadimplentes. Conseguimos fazê-lo com a perda de 15% da nossa receita.
O senhor acredita que a retomada de arrecadação acontece no próximo ano?
Esse ano tivemos uma perda de 15% na receita. Por que 15% se o crescimento negativo foi de 1,5%? A nossa receita toda é tributária, decorrente do movimento econômico. Com exceção de IPTU, está em dia, foi corrigido pela inflação. Mas com a economia que perdeu velocidade, setor metal-mecânico por exemplo, ele encolheu 20%. E Joinville tem sua economia toda centrada no setor metal-mecânico. Tivemos uma perda nominal e, se embutirmos inflação, essa perda é de 15%, mas nossa despesa continua a mesma. Pelo contrário, ela cresceu. E conseguimos com todo esse novo processo de gestão deixar o município solvente. Gestão é uma só, público e privada. Não muda nada. Só existe uma pequena diferença. A empresa privada mal conduzida quebra e vai à falência. Nunca vi uma cidade falir nesse país.
O senhor usa muito o termo das mãos limpas, honestidade. É uma indireta aos adversários?
Não é uma indireta. Qual é a nossa leitura? O poder público apodreceu. Apodreceu porque a comunicação graça escancaradamente no país. Não é novidade. Está dentro do Lava-Jato, Mensalão, Zelothes, acarajé e outros pratos que vão aparecer por aí. Se não eliminarmos a corrupção, nada modifica. E essa é uma grande oportunidade de acabar com o clientelismo político. Não se pode aceitar que o político chegue de forma humilde, assuma um cargo público, depois de algum tempo transforme seus parcos em recursos amealhados dos seus salários, que não são altos, transforme isso em fortunas. Hoje, o maior empreiteiro do país está preso. Se nós não atacarmos a corrupção de frente, isto não muda. O clientelismo político continua, cada um pensando em si e que se dane a cidade. Esse tem sido nosso compromisso, continua sendo. Não tivemos nenhuma licitação anulada, nenhum desvio de conduta. Temos uma oposição aguerrida, até agora não conseguiu encontrar nenhum deslize nosso. E estimulamos as denúncias, é a única forma de começarmos a moralizar a vida pública. Aí aproveitamos a assertiva do Papa Francisco: “a política é nobre, mas apodreceu porque as pessoas de bem a abandonaram”. Se olharmos para o país, quem são nossas novas lideranças políticas? Tem uma que apareceu aí, o avião explodiu. Quem são as outras? E a nível de Estado, quem são as novas lideranças? Agora estamos diante de eleições municipais. Quem são os novos líderes? É difícil encontrar alguém.
Até hoje não se fez licitação no transporte coletivo. Consegue levar adiante isso?
Quando chegamos aqui, havia uma ação, um passivo de R$ 248 milhões, que depois houve um entendimento no governo anterior para reduzir pela metade. Passamos a largo disso, até hoje não olhei dentro disso porque o município não reconhece esse passivo. O que é preciso fazer para resolver o transporte coletivo? Hoje o transporte coletivo é caro. Só existe uma forma de resolver… E, aliás, Joinvlle está nesse caminho. Vamos construir 56 quilômetros de corredores de ônibus, cujos recursos já estão assegurados. São R$ 104 milhões que já estão na nossa conta. Esses corredores vão permitir com que ônibus cheguem com mais rapidez no seu destino. Vai haver ônibus rebaixado, com ar-condicionado, melhores horários. Ou seja, vão chegar ao destino em tempo menor, com mais segurança, mais do que o transporte individual. Esse é o caminho. Hoje apenas12% da população usa transporte coletivo. Queremos dobrar isso. Quando acontecer, vai cair 30% o preço da passagem. Aí a passagem fica adequada. E além do ônibus, também a bicicleta, que podemos dobrar. Hoje temos 152 quilômetros de ciclovias. Para os próximos dez anos, se amplia para quase 700 quilômetros. Vamos dobrar o uso da bicicleta. O primeiro plano de transporte ativo do país, nós o construímos. Da mesma forma, nosso plano de mobilidade urbana é referência no Ministério das Cidades. Temos um bom plano de mobilidade, um bom plano de transporte ativo. É provável que Joinville entregue o primeiro plano de desenvolvimento regional dentro do Estatuto das Métropoles. Vamos ser pioneiros nisso. Com isso, a cidade fica preparada para resolver o problema da mobilidade como um tudo e também do transporte coletivo.
Acha que consegue refazer o serviço do estacionamento rotativo ainda nesse mandato?
Vai ficar para o próximo mandato. Nossa Zona Azul já estava pronta, construída, e o Tribunal de Contas modificou os critérios. Tivemos que refazer todo esse processo novamente. Isto é trabalhoso, reclama todo o cuidado porque, como sabemos, esse estacionamento rotativo espalhado pelo país ensejou uma judicialização forte com vários desvios de conduta. E nós preferíamos ter o cuidado para construir um bom… Quando ele estava pronto, mudaram as regras e decidimos ajustá-la às novas exigências. Que são boas, foram construídas para previnir desvio de conduta. Então, teremos nossos estacionamento rotativo, mas sempre lembrando que a via deve ser usada cada vez menos para estacionar o automóvel e cada vez mais para o automóvel andar. Só assim vamos nos livrar dos congestionamentos. Os estacionamentos terão de ser estimulados. Shopping Center tem seu estacionamento, hospital tem… Esses espaços precisam ser ocupados. Temos vazios urbanos suficientes para abrigar automóveis fora da via pública.
Acha que a LOT será concluída até o fim do ano ou terá de levar adiante?Já se arrasta por quase quatro anos.
Quando chegamos ao governo, resolvemos retomar tudo isso por recomendação do Ministério Público. Repetimos audiências dentro do Conselho da Cidade, isto tudo foi feito e já está lá, agora, novamente meio ano na Câmara de Vereadores. Agora estamos diante desse processo eleitoral, são quase cem emendas que fazem parte dessa revisão. E apreciar cem emendas em um mês é uma tarefa exaustiva, então claro que o desejável é que a gente consiga aprovar isso este ano, mas vai ser uma tarefa gigantesca para a Câmara de Vereadores. Porque examinar quase cem emendas em um ou dois meses não é tarefa fácil.
Antes era macrozoneamento, o próprio plano diretor. Sempre em polêmica. Como superar isso?
É quebrar as resistências. Existem interesses que nem sempre coincidem com os interesses da cidade, que busca aí um espaço, uma ocupação cada vez mais racional dos espaços. Saber onde deve crescer a economia, onde se instalam as indústrias, os serviços. Onde serão acomodados os conjuntos residenciais, qual deve ser o crescimento vertical. O centro da cidade hoje tem vazios urbanos que incomodam, mas estão dotados de esgoto, águal, luz, gás, fibra ótica e se constituem espaços apenas especulativos. Quem paga por tudo isto é a população. Existem esses interesses, tanto assim que o Conselho da Cidade é constituído por membros aonde o setor público é minoria. A sociedade civil tem mais cadeiras no Conselho da Cidade do que o poder público. Não há como se dizer que o poder público tem direcionado alguma coisa. Ainda assim apareceram quase cem emendas. É difícil assimilar isso. Tanta emenda de uma hora para outra. Como se o conselho não tivesse feito um bom trabalho, como se todos os segmentos que fazem parte do conselho tivessem sido descuidados.
É uma crítica à Câmara?
Não é uma crítica à Câmara. É uma crítica àquele que levou para o Poder Legislativo uma avalanche tal de emendas. O vereador recebe a emenda, é preciso ter o cuidado, saber se ele teve tempo suficiente ou não para examinar a emenda. Se isto começar a ser discutido com detalhes, olha são anos…
Joinville tem vivido greves anuais. Como o senhor pretende levar no segundo mandato a relação com o sindicato?
Vai ser exatamente a mesma. Em todos os acordos que tivemos, com exceção do último, repusemos apenas a inflação. Em todos os acordos anteriores os servidores tiveram ganho real. Isto foi penoso para o município. Fizemos avanços importantes, como a concessão do vale-alimentação. Isto permitiu que, no ano passado, o professor, embora não tenha incorporado o salário, colocou no bolso um reajuste que variou entre 12 e 16%. E o que recebeu 16% equivaleu ao dobro da alimentação. Foi bom porque o salário do professor ainda reclama atualizações, mas a cidade de Joinville conseguiu repassar o INPC para o salário. Os municípios catarinenses já não o fizeram de forma completa. Reajustes parciais, alguns nem reajustes concederam. Então hoje nós temos esse compromisso com o servidor ajustado e temos de considerar que, dos nossos 13 mil servidores, mais de 10 mil estão alocados na saúde e educação. Nossa educação é a melhor do Estado, umas das melhores do país. E nossa saúde vai bem, ainda há espaço para melhorar. Mas aí é preciso que os outros entes da federação participem, como Estado e União.
Como é a primeira eleição sem Luiz Henrique da Silveira?
Não muda muita coisa. Conheci o senador Luiz Henrique da Silveira antes de ele ser político. Conheci Luiz Henrique quando ele era advogado, como também fui. Exerci a advocacia por três anos e acabei conhecendo o Luiz Henrique no fórum, numa ação judicial. E daquele momento em diante nos tornamos amigos. Convivi com o Luiz Henrique por mais de quatro décadas. Aí o Luiz Henrique ingressou na vida pública. Pude acompanhar toda sua trajetória de prefeito, governador, deputado, senador, líder nacional, do partido, presidente nacional do partido, de ministro da Ciência e Tecnologia. Tive a oportunidade de ser membro do conselho nacional de Ciência e Tecnologia. Tenho seguido muito os aconselhamentos. O Luiz Henrique foi um líder político que pode antever muitas coisas. Deixou um legado extraordinário para a cidade, o Estado e o país. Se não fosse olhar para nada, apenas o avanço que ele permitiu com a construção do código florestal já é suficiente para justificar toda a sua vida política.
Como é a ausência dele no dia a dia da campanha?
Eu sempre me encontro muito próximo com o Luiz Henrique, ainda continuo vendo o Luiz Henrique na minha frente. Eu convivi com o Luiz Henrique mais de quatro décadas. Então, sinto o Luiz Henrique ainda presente. Hoje, por exemplo, estive numa caminhada. É como se Luiz Henrique estivesse andando do meu lado. E é assim que tenho feito. Aprendi que não se deve governar para as pessoas, mas sim com as pessoas. Ouvindo. Assim tenho feito ao longo de todo o governo, tenho percebido a participação da comunidade nessa forma de ver a cidade. O nosso plano, nossa proposta de governo foi feita a milhares de mãos, ela não foi construída no afogadilho. Foi construído durante seis meses, mas colecionou milhares de sugestões ao longo de todo o governo.
(Fonte: DC)