A operação Lava Jato vem gerando negócios para alguns empreendedores. É o caso da Audiotext, empresa paranaense que faz transcrição de áudio e vídeo e foi contratada por empresas envolvidas na investigação.
“Os escritórios de advocacia que representam algumas empresas investigadas nos contrataram para fazer as transcrições [dos áudios] e apresentar o material na defesa delas”, diz o economista Christiano Cornehl, 25, um dos cinco sócios da empresa.
Ao todo, seis companhias ligadas à Lava Jato já se tornaram clientes da Audiotext. Em apenas um dos trabalhos, segundo Cornehl, foram 207 horas de gravação transcritas. O nome das empresas e os valores pagos não podem ser revelados por causa de uma cláusula de confidencialidade no contrato.
Turbinada com a Lava Jato
A empresa faturou R$ 40 mil no primeiro ano de atuação e vem registrando crescimento desde então:
R$ 250 mil, em 2013;
R$ 450 mil, em 2014;
R$ 700 mil, em 2015; e
R$ 1 milhão, estimativa para 2016.
Segundo Cornehl, a alta no faturamento deste ano se deve aos trabalhos ligados à Lava Jato. O lucro não foi divulgado.
Até R$ 6 por minuto transcrito
Os preços variam de R$ 2,50 a R$ 6 por minuto, para transcrições feitas na íntegra, e de R$ 1,80 a R$ 4 por minuto, para transcrições que excluem gaguejos e vícios de linguagem que são considerados desnecessários para a análise final do material.
O prazo para prestação do serviço varia, segundo o empresário. Uma transcrição de 15 minutos pode ser entregue no mesmo dia, uma de três horas, em até dois dias úteis, e uma de 200 horas, em um mês e meio.
Um áudio de uma hora gera cinco horas de trabalho.
Ideia surgiu na faculdade
A empresa foi criada em 2012, na cidade de Curitiba (PR), por Cornehl, Jonathan Leão (22), Javier Oliveira (27), Leticia Preuss (20) e Kaue Silva (25). Os amigos tiveram a ideia de abrir um negócio juntos durante a faculdade.
“O Javier fez a transcrição de áudio para uma pesquisadora da faculdade, e vimos que esse mercado fora do Brasil era grande e bem profissionalizado, enquanto aqui havia poucas empresas e a maioria desses serviços era feito por free lancers.”
Clientela de advogados e órgãos públicos
Os principais clientes são órgãos públicos e advogados –a empresa tem uma parceria firmada com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
“Já executamos serviços para multinacionais da Austrália, EUA, Espanha, Argentina e Paraguai que atuam no Brasil.”
Por causa desse tipo de serviço, eles também têm funcionários que falam inglês e espanhol. A maioria deles é formada em letras e comunicação.
Governo terceiriza serviço
A procura por esse tipo de serviço está concentrada nos órgãos públicos, afirma o consultor de empreendedorismo Guto Ferreira. Segundo ele, a Câmara Federal tem contratos para a transcrição de discursos e debates das comissões; com isso, é responsável pela maior parte da renda para as empresas que atuam na área.
“Um processo de 500 páginas deve gerar 10 horas de gravação de uma testemunha, por exemplo, e o poder público não tem como fazer a transcrição internamente. Por isso, abre licitação e acaba gerando oportunidade de negócio.”
Sazonalidade é principal risco
Ferreira também afirma que, apesar da alta procura atualmente, não é possível prever a quantidade de trabalho que a área vai oferecer e durante quanto tempo.
Hoje o serviço vem sendo muito solicitado por causa das investigações. Será que haverá o mesmo fluxo de trabalho nos próximos anos?
Além disso, segundo ele, com o surgimento de novas tecnologias no mercado, nada impede que o serviço possa ser feito de forma inteiramente digital nos próximos anos. “Essas empresas serão obrigadas a passar por um processo de reconstrução em breve para agregar algum produto ou serviço e continuar funcionando.”
Ele cita como exemplo os software Watson, da IBM, e Siri, da Apple. “Eles ainda não oferecem a fidelidade das transcrições, mas é questão de tempo para isso acontecer.”
(Fonte: UOL)