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Para Stadtbus, requisitos do edital são ’perversos’

A única participante da licitação do transporte coletivo de Porto Alegre que ainda não opera na cidade é a Stadtbus, de Santa Cruz do Sul. Atuando no ramo do transporte desde 1966, em cidades do Estado, do Mato Grosso e de São Paulo, a empresa foi desclassificada nos três lotes que concorreu, mas entregará hoje suas contrarrazões para tentar voltar à disputa. Em entrevista ao Jornal do Comércio, Géferson Tolotti, diretor da Stadtbus, diz que as exigências do edital prejudicaram a competitividade, pois, ao contrário dos atuais consórcios, que já possuem frota nos moldes definidos, seria necessário adquirir 200 ônibus em cada um dos lotes.

Jornal do Comércio – Como a Stadtbus avalia a licitação do transporte da Capital e a sua participação nela?

Géferson Tolotti – A participação na licitação não é muito fácil, pois requer um investimento de cerca de 200 ônibus para cada lote licitado (nesta licitação, as três bacias existentes foram divididas em seis lotes). Cada ônibus simples, no modelo que o edital determina, custa cerca de R$ 280 mil. Nós acreditávamos que poderiam ser lotes menores para aumentar a competitividade, com mais empresas do Interior do Estado e de outros lugares do Brasil participando. Não estamos falando só de capacidade de investimento, mas de ter o atestado de 50% dos passageiros transportados e do número de ônibus. Isso é raro de as empresas terem. Em cidades europeias, podemos verificar empresas com dez ou 15 ônibus apenas. O que é necessário é ter um órgão que faça a gestão das empresas, definindo regras para o serviço. Neste modelo, a competitividade é prejudicada, e podemos verificar isso pelo fato de que só uma concorrente não faz parte dos atuais consórcios.

JC – A empresa foi desclassificada no lote 4 por apresentar tarifa superior ao estabelecido. Por que isso foi feito?

Tolotti – Aconteceu uma coisa perversa nesse edital. Um mês antes de enviar a proposta, nos demos conta de que não existiam ônibus usados com os pré-requisitos definidos para Porto Alegre para aquisição no País. Os ônibus de Curitiba não servem para a Capital, os de São Paulo e Rio de Janeiro também não etc. Para alargar uma porta de um veículo já existente, é extremamente caro. Para encomendar um novo, não tem problema, é só definir as medidas. Anos atrás, foram criadas exigências sobre o tamanho do degrau e da porta, com diferença de um centímetro para cada lado. Colocamos uma tarifa superior, pois era a única possível para algumas bacias e para demonstrar a perda de competitividade. Só conseguiríamos nesse lote com ônibus usados, mas eles não estão disponíveis no mercado.

JC – Mas no lote 5 a tarifa apresentada foi menor que a das concorrentes?

Tolotti – Então, nós fomos aos fornecedores de ônibus do Estado. Conseguimos, mesmo colocando toda a frota operante com menos de um ano de uso, fazer uma proposta ainda melhor que as outras no lote 5. Ao longo do contrato, nossa proposta representa uma economia de R$ 20 milhões em relação à oferecida pela concorrente. Agora, tentam nos desclassificar tanto no lote 5 quanto no lote 1 pelo tal fator de utilização, que se refere ao número de motoristas e cobradores que se coloca na planilha para cada ônibus. Em 200 ônibus, a nossa proposta divergiu, sob o ponto de vista de interpretação da EPTC, em 1,4 motorista. Eles querem nos desclassificar por uma planilha que nós não temos, que não nos passaram, fazendo com que a população de Porto Alegre gaste R$ 20 milhões a mais e ande em ônibus com mais tempo de uso. Nossa frota ficou com cinco anos a menos do que a frota da concorrente.

JC – Vocês consideram que esse motivo é irrisório?

Tolotti – Eles permitem que as empresas atuais tenham mais de 57 diretores juntas, recebendo mensalmente R$ 10,8 mil cada, somando um valor anual de mais de R$ 7 milhões. O número é maior do que o de vereadores em Porto Alegre. Se são seis lotes, deveriam ser seis diretores. A nossa empresa está oferendo um diretor, que sou eu. Nada disso foi levado em conta.

JC – O que deveria ter sido feito para tornar a licitação mais interessante para as novas empresas?

Tolotti – Poderia ter sido pedido ônibus com padrão nacional para todos ou que pudessem ser apresentados coletivos com outros moldes e, na renovação, fosse solicitado o padrão de Porto Alegre. Entretanto, essa não é a questão agora. Amanhã (hoje), nós entregaremos as contrarrazões relativas à desclassificação, apontando uma série de problemas das outras empresas (divergência entre a frota operante informada e a utilizada no cálculo da tarifa, utilização de percurso médio mensal operacional em desacordo com a proposta, utilização de declaração de preço de combustível sem validade etc.). Acreditamos que a Comissão de Licitação abrirá os olhos para isso. Se aceitarem, poderemos nos habilitar para os lotes 1 e 5.

(Fonte: Jornal do Comércio)

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