Investigações mostraram que funcionários da Petrobras recebiam propina desde 97. MP fez acordos de delação para conseguir detalhes do esquema.
O Ministério Público Federal denunciou, nesta quinta-feira (17), 12 suspeitos de desviar dinheiro de contratos da Petrobras para pagamento de propina. A operação Sangue Negro é anterior à Lava Jato.
As investigações mostraram que funcionários da Petrobras recebiam propina desde 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Os pagamentos irregulares a funcionários se estenderam até o início de 2012, passando pelos governos de Lula e Dilma Rousseff. Foram 14 anos de desvios, que somaram US$ 46 milhões, mais de R$ 180 milhões.
Os policiais buscaram indícios na sede da Petroserv, uma empresa de prospecção de petróleo, no Rio de Janeiro, que também está sendo investigada. O alvo são os contratos com uma empresa holandesa, a SBM, que produz equipamentos de exploração de petróleo em alto mar.
Os contratos na maioria das vezes envolviam o aluguel de navios-plataforma. A Petrobras pagava pelos serviços da SBM, e a SBM pagava para seus agentes de venda, que intermediavam as negociações no Brasil.
Segundo os investigadores, esses agentes tinham empresas aqui e outras de fachada que serviam apenas para a abertura de contas na Suíça. Um por cento da comissão era pago no Brasil. E o restante – de 2% a 9% – ia para essas contas na Suíça. E lá os bancos eram orientados a repassar o dinheiro para outras contas, também na Suiça, em nome de empresas ligadas a funcionários da Petrobras.
“Essas empresas não tinham nunca tiveram contato com a SBM, e também não emitiam fatura, nota fiscal, nenhum documento para que a SBM pudesse lançar em sua contabilidade.
A lavagem de dinheiro, foram utilizadas pelo menos 38 contas, concentradas em três bancos suíços”, afirmou Renato Silva de Oliveira, procurador da República.
O Ministério Público fez acordos de delação premiada para conseguir detalhes do esquema. Segundo os investigadores, parte das comissões fora do Brasil era na verdade propina, que a SBM pagava em troca de informações privilegiadas da Petrobras. Com essas informações, ficava mais fácil vencer as licitações para fornecer navios e outros equipamentos.
Segundo o MP, entre os empregados que receberam propina diretamente estão Jorge Zelada, ex-diretor internacional da Petrobras – havia um mandado de prisão contra Zelada, mas ele já estava preso por causa da Operação Lava Jato – e Paulo Roberto Buarque Carneiro, que era membro da comissão de licitação da Petrobras. Ele foi preso nesta quinta-feira (17) em Angra dos Reis, no litoral sul do Rio de Janeiro.
Também foi expedido um mandado de prisão contra Renato Duque, ex-diretor de serviços da Petrobras, que também já estava na cadeia por causa da Lava Jato. O Ministério Público diz que ele também recebia propina e teria ajudado – com o apoio de Pedro Barusco – a desviar US$ 300 mil para a campanha presidencial do Partido dos Trabalhadores em 2010.
Barusco, que era gerente-executivo de engenharia da Petrobras, não teve mandado de prisão expedido por causa do acordo de delação premiada.
O Jornal Nacional teve acesso com exclusividade à delação em que Pedro Barusco explica como foi feita parte da negociação. Ele recebeu em casa os representantes da SBM no Brasil, Julio Faerman e Luiz Eduardo Campos da Silva. Os dois também foram denunciados pelo Ministério Público.
“O Faerman e o Luiz Eduardo foram procurados como agentes da SBM e o Barusco repassou esses 300 mil para o Duque não como uma transferência financeira, mas como uma compensação de propinas, ele deixou de receber 300 mil dólares aqui no Brasil e o Duque recebeu 300 mil a mais”, explicou o procurador da República.
O advogado de Jorge Zelada declarou que a prisão decretada nesta quinta não tem fundamento e é ilegal. O Jornal Nacional não teve retorno dos advogados de Pedro Barusco, Renato Duque e de Luís Eduardo Campos da Silva.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com as defesas de Paulo Roberto Buarque Carneiro e Julio Faerman.
A SBM declarou que as alegações não têm mérito e que vai pedir às autoridades esclarecimentos sobre a denúncia. A Petroserv não quis se pronunciar.
(Fonte: G1)
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