Diretor de Ações de Governo afastado do cargo por 180 dias durante a Operação Ibiaçá, Gilson Hartmann foi o único que, até agora, veio a público comentar as ações do Ministério Público. Junto com os secretários Valter Robalo e Evandro Machado da Silveira, também removidos do governo por decisão judicial, ele é acusado de integrar uma “organização criminosa” que fraudava licitações para beneficiar empresas. Hartmann nega e diz que sequer sabe exatamente do que está sendo acusado.
Para o ex-diretor, a ação do MP foi uma espetacularização. “Entreguei tudo que pediram, dois celulares e três computadores, e estou disposto a colaborar com as investigações. Não fiz nada de errado e a tal organização criminosa, se existe, não tenho conhecimento”, garantiu. Hartmann pondera que pode responder por si, mas assegura que também o prefeito Aldana “está limpo”.
Sobre as licitações, observa que todos os processos passam por secretários, diretores, servidores de carreira e técnicos, entre os quais advogados, engenheiros e arquitetos. “Toda e qualquer alteração em edital ou aditivo passa por uma série de pessoas. Não entendo por que estão investigando apenas três pessoas”, reclama. De qualquer forma, ele ressalta que não existe qualquer acusação formalizada e que tem plenas condições de justificar todo ato ou conversa que por ventura tenha sido alvo de escuta.
Quanto à acusação de que a Administração teria afastado pessoas que tentaram evitar as irregularidades, Gilson observa que as nomeações e as exonerações de CCs são motivadas por vários fatores técnicos e políticos, incluindo o não cumprimento de metas. Para todos os casos, existem justificativas que, segundo ele, não têm qualquer relação com perseguição por denúncia de fraudes. “Todas as nossas ações foram no sentido de moralizar, de impedir que alguém levasse vantagem e que o dinheiro público fosse desviado”, assegura.
O ex-diretor garante que está tranquilo e preparando a sua defesa, embora ainda não saiba as imputações que lhe são feitas. Acrescenta que várias vezes tentou deixar a Administração, mas acabou ficando a pedido do prefeito.
Governo tenta retomar a normalidade após apreensões
Após a varredura do Ministério Público Estadual na Prefeitura e em algumas secretarias, a rotina do governo foi praticamente reestabelecida nesta quarta-feira, ao menos no que se refere ao atendimento ao público. Nos bastidores da Administração, a ordem é minimizar os impactos políticos e pensar na recomposição do secretariado.
Os substitutos de Valter Robalo, da Indústria, Comércio e Turismo; e de Evandro Machado da Silveira, da Gestão e Planejamento, seguem indefinidos.
Há a possibilidade de as pastas serem agrupadas sob a coordenação de algum secretário de governo, a exemplo do que já ocorre com as de Viação e Serviços Urbanos e de Desenvolvimento Rural, que estão unificadas. O mesmo ocorre com o secretário de Administração, que também acumula o comando do Desenvolvimento Social.
“Ainda estamos em contenção de gastos, por isso estudamos essas possibilidades”, aponta o chefe de gabinete e coordenador da assessoria de Comunicação André de Oliveira.
O prefeito Luiz Américo Aldana não deve comparecer ao Palácio Rio Branco nos próximos dias. Segundo a assessoria, ele está em tratamento médico em casa, à base de antibióticos. Em princípio, trata-se de uma forte gripe. Alguns assuntos de governo estão sendo discutidos na sua residência com o pessoal do primeiro escalão, como a reconfiguração das secretarias que tiveram os titulares afastados por 180 dias. Não há definição de quando ele vai se manifestar sobre a operação.
Mesmo sob investigação, as obras que foram contratadas junto às empresas investigadas vão ser executadas. “Há um projeto do Badesul para recapear, asfaltar, pavimentar e calçar dez ruas, que já iniciou pela Imigrantes e que vai ter sequência, assim como as obras na Biblioteca e na escola José Pedro Steigleder”, assegura o secretário de Obras, Argus Machado.
No prédio da Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo, todos os setores também operavam normalmente nesta quarta-feira (07) e funcionários do órgão responsável pelo transporte escolar afirmaram que o serviço vai ser mantido até o fim do contrato. O semestre letivo vai até o dia 18 de julho e as aulas devem ser retomadas no dia 31 do mesmo mês na rede municipal. (ES)
Vereadores avaliam medidas
Na Casa do Povo, as opiniões e as percepções do momento político refletem bem a pluralidade de ideias, mesmo entre os vereadores que compõem a base de Aldana na Câmara. Talis Ferreira, do PR, afirma que a situação é inaceitável. “Eu sou a favor da transparência. Que os responsáveis sejam punidos. A comunidade está revoltada e estou com os moradores”, aponta Talis. O vereador também afirma já está em tratativas com os demais colegas em busca de medidas políticas para dar respostas à população. A abertura de uma comissão parlamentar de inquérito não foi descartada. “Alguma medida tem que ser tomada urgente referente a isso. Estou conversando com todos os dez vereadores. Fui eleito para fiscalizar e combater esse tipo de coisa”, diz.
Incrédula diante das altas cifras envolvidas no caso sob investigação, a vereadora Josi Paz, do PSB, disse que passou parte da terça-feira conversando com colegas do partido. “Queria que não estivesse acontecendo nada disso, muito menos aqui, mas são os fatos. Quero que as investigações sejam rápidas e que todos os que forem culpados sejam punidos”, afirma Josi.
Para a vereadora, o momento também é de reflexão e de se pensar em criar leis modernas, que aumentem o controle do uso do dinheiro público na cidade. “Temos que ver de que forma podemos trabalhar leis que possam restringir o desvio de dinheiro em fraudes”, destaca Josi.
Já o vereador Valdeci de Castro, também do PSB, prefere primeiro “ouvir diretamente da boca do prefeito”, para depois se manifestar publicamente. O tom do vereador é no sentido de alinhar e cobrar posições do colega socialista. “Já estou buscando uma agenda com o prefeito Aldana e, assim que tiver marcado, eu pretendo convidar a vereadora Rose (PSB) para participar dessa conversa”, explica Valdeci. Ontem ela não foi localizada.
Apesar das manifestações pelas redes sociais pedindo o Impeachment do prefeito, o momento é de espera, aponta o presidente da Câmara, Neri de Mello Pena (PTB). “O momento é aguardar. O caso está na justiça e cabe a ela resolver. A população, com certeza, vai se manifestar e aproveitar essas oportunidades aqui na Câmara. O momento é de trabalhar pelo município”, afirma o presidente. Sobre os futuros secretários, Neri espera que sejam pessoas sérias, acima de qualquer suspeita. “Essa escolha cabe ao executivo. Acredito que a comunidade precisa, nesse momento, é de uma transparência maior na Administração Municipal”, avalia. (ES)
Entenda o caso
Nesta terça-feira, foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão na Prefeitura de Montenegro, empresas e residências, além de medidas de afastamento contra dois secretários e um diretor municipal por 180 dias. Ainda, quatro empresários estão proibidos de contratarem com o poder público e outros dois engenheiros não podem mais exercer a profissão perante a Prefeitura.
A ação investiga, inicialmente, 15 pessoas suspeitas de integrarem uma organização criminosa que atua a partir de fraudes licitatórias em contratos públicos e aditivos de contratos, especialmente para o transporte escolar, terraplanagem e drenagem, revitalização de ruas, construção e reforma de prédios públicos. A fiscalização do cumprimento das contratações também é investigada. Os contratos suspeitos compreendem cifra superior a R$ 20 milhões.
(Fonte: Jornal Libia)
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