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Obras de urbanização e paisagismo do Mané Garrincha viram depósito de lixo

A construção foi interrompida depois que a empresa responsável perdeu a licitação, mas a construtora não recolheu os materiais do local

À beira do Eixo Monumental, bem no centro da capital federal, o terreno onde seria construído uma espécie de espaço recreativo próximo ao estádio Mané Garricha virou depósito de lixo. O que sobrou da estrutura inicial do projeto, hoje, são espaços com pilhas de capacetes de operários, pilhas de papéis oficiais abandonados, roupas e dejetos. Os jardins com fontes, o sistema de captação de água da chuva, a passagem subterrânea ao Eixo Monumental ligando o Centro de Convenções ao Estádio e ao Parque da Cidade não saíram do papel.

Listado entre as obras previstas ainda para a Copa de 2014, o projeto de urbanização e paisagismo do estádio já começou enfrentando problemas na licitação. Não andou e este ano ainda se viu envolvido num desdobramento da operação Lava-Jato, quando uma das construtores responsáveis pela execução admitiu que havia pagamento de propina para as obras de reforma do estádio de Brasília. A licitação foi cancelada em abril deste ano.

A estrutura ficou abandonada depois que a empresa responsável pela obra, o Consórcio Legado Brasília, começou a ter problemas com a licitação. Criado em 2014, o consórcio é formado pelas empresas Via Engenharia e Andrade Gutierrez Engenharia.

Em abril deste ano, a Novacap anulou a contratação das empresas, que deveriam seriam responsáveis pelo projeto de urbanização e paisagismo do estádio, com orçamento de R$ 360 milhões. A rescisão foi unilateral, ou seja, sem a concordância das construtoras. Em delação premiada, ex-executivos da Andrade Gutierrez relataram que pagaram propina para que a empresa ganhasse a licitação.

De acordo com depoimentos de delação premiada de ex-executivos da Andrade Gutierrez, a empresa formou um cartel com várias empreiteiras para que o Consórcio Legado Brasília fosse o ganhador da licitação e realizasse as obras no estádio Mané Garrincha, incluindo o projeto de urbanização e paisagismo. Os acordos começaram em 2008, um ano antes da seleção, e ficou acertado que os vencedores repassariam 1% do valor como propina.

Os relatos dos executivos foram confirmados por diretores da Odebrecht, que teria entrado na licitação apresentando um valor maior como fachada. Em retorno, a licitação das obras da Arena Pernambuco ficaria com a Odebrecht. Uma pesquisa do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) também apontou irregularidades na licitação, apontando um “notório direcionamento” para que a empresa fosse favorecida.

Procurada pelo O Globo, a empresa Andrade Gutierrez informou que não irá comentar o assunto, mas que continua colaborando com investigações do Ministério Público Federal e reforçou seu compromisso em esclarecer e corrigir todos os fatos irregulares ocorridos no passado. A Via Engenharia não respondeu.

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Apesar de toda a estrutura no local, a Novacap informou que a obra nunca chegou a ser iniciada pois o empenho foi cancelado no fim de 2014. Apenas em março deste ano foram iniciados os procedimentos para a rescisão do contrato, sob a justificativa de que o GDF enfrentava uma grande crise financeira e áreas como educação e saúde deveriam ser priorizadas.

Além disso, segundo a instituição , o objeto do contrato, que era adequar a área para a Copa do Mundo de 2014, havia sido perdido. O órgão ainda afirma que como o contrato não chegou a ser executado, ele não foi abandonado pois seria como se não existisse e que a não execução do projeto não traz prejuízo algum para a população.

(* estagiária sob supervisão de Francisco Leali)

(Fonte: O Globo)

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