Notícias

O arquiteto que leva a Flip para beira-mar

Uma crítica à festa literária é que ela se resumiria a um conflito de interesses de uma “panela” de editoras. O que pensa disso?
Não é verdade. O critério de escolha dos autores é puramente literário. A Flip é independente. Não sofremos pressão de governo, universidades ou mercado editorial. É claro que se uma editora tem muitos autores interessantes, terá mais convites, mas em geral é bem distribuído.

 

Como funciona a busca de patrocínio para a festa?
É a parte mais desafiadora. Entretanto, fazemos uso de um sistema que segundo o secretário de Cultura, (Carlos Augusto) Calil, é a visão de futuro do Minc. Dividimos em três partes: recursos próprios, renúncia fiscal e patrocínio direto. Quase todos os festivais são muito dependentes do incentivo público.

 

Vocês estão trabalhando na urbanização da borda d`água da cidade. Não é difícil capitanear isso? A burocracia não barra o processo?
A arquitetura está muito fora da pauta. Isso deve ter relação com os anos de ditadura, porque a maneira como a pauta do espaço público é ditada pelas empreiteiras e pelos políticos é muito antiga. A população não se envolve com essa questão. Isso é impressionante.

 

As pessoas não pensam a arquitetura atualmente?
Acho que tem mudança por aí, porque é um escândalo esse abandono de interesse. Só no Brasil é assim. Não precisa ir para Europa ou para os EUA para ver que a arquitetura é um tema e o espaço público é melhor. No Uruguai, Argentina e Chile também é.

 

Acredita que esse desinteresse tem relação com as nossos cursos e universidades?
Não. Temos ótimos arquitetos. Que, aliás, estão sendo contratados fora do Brasil para fazer projetos incríveis. É a questão do Estado e da contratação.

 

Como poderia melhorar?
Alberto Goldman, por exemplo, sancionou uma lei que os arquitetos batalham há 30 anos. Defende que os projetos não sejam feitos por licitação de menor preço. Projeto é a invenção de um conceito. Se o critério de escolha é o menor preço, a longo prazo a decisão é por baixa qualidade. Os EUA encontraram uma saída interessante para isso.

 

Qual?
Existem listas pré-qualificadas por excelência de desenho. Um arquiteto recém-formado pode pegar um contrato para desenhar um ponto de ônibus na periferia. Então, depois de construída a obra, uma comissão qualificada avalia o trabalho, dá uma nota. Essa pontuação irá qualificá-lo para realizar um projeto um pouco mais complexo. Isso é um critério que não é pelo menor preço e, sim, pelo resultado, de acordo com o interesse público. É uma avaliação cultural, e não só econômica.

 

Pensando no espaço público, o que achou do fechamento do Belas Artes?
Foi uma perda para a cidade. Mas me impressionou a mobilização popular. Foi um exercício de cidadania, de dar valor cultural a uma experiência afetiva.

 

A revista Projeto escolheu o Museu do Futebol, assinado por você, como destaque da década no que diz respeito à reciclagem e a reclassificação de edifícios antigos. Como foi o processo de criação do museu?

 

Usamos o futebol como manifestação cultural e aproveitamos uma circunstância muito interessante que é o Estádio do Pacaembu. Em 1910, uma paisagista de origem francesa percebeu que aquela grota no Pacaembu tinha vocação para uma obra de grande porte, encaixava-se na topografia de maneira perfeita. Eu tenho certeza que a afetividade do paulistano para com o Pacaembu tem relação direta com essa característica dele. O estádio tem 25 metros de altura e no entanto, convive harmonicamente com residências de dois andares.

 

MARILIA NEUSTEIN
Colaboração
Débora Bergamasco debora.bergamasco@grupoestado.com.br
João Luiz Vieira joao.vieira@grupoestado.com.br
Marilia Neustein marilia.neustein@grupoestado.com.br
Paula Bonelli paula.bonelli@grupoestado.com.br

Por: Sonia Racy

(Fonte: Estadão Online)

Related posts
Notícias

Com investimento de R$ 3,4 milhões, Recife lança licitação para construir Arrecifes da Cidadania

Equipamento será instalado na Comunidade do Bem, no bairro da Imbiribeira, Zona Sul da cidade, com…
Read more
Notícias

Em breve deve ser aberta licitação para concessão dos quiosques no Parque dos Pioneiros

Lance inicial previsto é de R$ 400,00 mensais. Vence quem oferecer o maior valor fixo mensal. Com o…
Read more
Notícias

Licitação para requalificação do Teatro Vila Velha será lançada nos próximos dias, diz Bruno Reis

Um dos teatros mais tradicionais de Salvador vai completar 60 anos em atividade, em 31 de julho, e…
Read more

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *