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Iphan prevê para semana que vem licitação de reforma do São Marcelo

Iphan promete lançar nos próximos dias licitação para recuperar o espaço, que nunca foi atacado pelo homem, mas está sendo destruído pelo abandono

Construído há 400 anos, o Forte de São Marcelo, cartão-postal da Baía, não pode ser visitado. Iphan promete lançar nos próximos dias licitação para recuperar o espaço, que nunca foi atacado pelo homem, mas está sendo destruído pelo abandono

 

Até mesmo os fortes precisam de um apoio. Depois que atravessa séculos e enfrenta o abandono, então… Há três anos fechado para visitação, o Forte de São Marcelo está próximo de deixar o atual clima fantasmagórico para se transformar em canteiro de obras.

 

Na próxima semana será publicado no Diário Oficial da União o edital de licitação para restauração do símbolo da Baía de Todos os Santos, antecipando as obras que devem, pela expectativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), iniciar em setembro.

 

O Iphan, responsável pela contratação e execução da restauração, divide a requalificação do espaço em duas intervenções. A primeira delas é a recuperação da parte física. Hoje, fechado e desocupado, o Forte fraqueja.

 

“A coroa tem uma série de patologias, com formação de cavernas (buracos) nas pedras. Vamos cuidar do enrocamento, ou seja, a forma como o Forte está implantado nessa coroa, além da recuperação do próprio Forte, com a recomposição das paredes da muralha, retirada dos fungos, a impermeabilização e estabilização da construção, deixando-o impecável para a segunda etapa do projeto”, detalha o superintendente do Iphan na Bahia, Carlos Amorim.

 

A restauração será financiada pelo governo federal através do chamado PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) das Cidades Históricas. Por conta do regime de contratação, o superintendente afirmou que não é possível estimar o valor que será gasto. O CORREIO apurou, no entanto, que a restauração deve custar pelo menos R$ 10 milhões.

 

De acordo com Amorim, em dez meses, essa primeira etapa será concluída.  O que quer dizer que só após o segundo semestre de 2015 o Forte São Marcelo estará pronto.

 

Futuro

O secretário municipal de Desenvolvimento, Cultura e Turismo de Salvador, Guilherme Bellintani, considera esse tempo importante. “Há uma grande expectativa pela reabertura, isso é legítimo, mas não se pode fazer uma política de curto prazo. É responsável que se resolva essas questões estruturais primeiro”, diz.

 

Bellintani explica que, após a obra, o Iphan –  que recebeu o equipamento por tempo indeterminado da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) – deve ceder o espaço à prefeitura, que foi corresponsável pelo projeto arquitetônico. Essa ocupação é justamente a segunda etapa da requalificação.

 

O projeto inicial da prefeitura é repassar a administração para a iniciativa privada. A ideia é que o forte abrigue um restaurante com um espaço multiuso. “O espaço terá programação o dia inteiro, como esses restaurantes modernos que têm em lugares de praia no mundo inteiro, como Ibiza, Miami, na França e em outros lugares da Espanha”, compara Amorim.

 

“Haverá uma cafeteria e um espaço museográfico, que pode servir tanto para exposições permanentes como rotativas”, completa Bellintani. O Iphan não pretende instalar no local um museu, mas um Centro de Referência que mantenha viva a memória do Forte do Mar, como também é chamado.

 

A dificuldade de manter na baía acervos faz com que a proposta de exposições com uso de tecnologia se sobreponha até o momento. “Vamos mostrar de forma interativa a relação do Forte com Salvador e com a própria Baía de Todos os Santos, além de contar as mais extraordinárias histórias do Forte, como o caso de Bento Gonçalves, preso político no Forte, que foi solto por Giuseppe Garibaldi e Anita Garibaldi”, exemplifica Amorim, referindo-se à prisão de um dos líderes da Revolução Farroupilha, na primeira metade do século XIX.

 

História

Possivelmente projetado por um engenheiro militar francês, nos anos 1600, segundo publicação do urbanista Mário Mendonça de Oliveira, o Forte foi erguido sobre uma coroa  artificial, delimitada por rochas.

 

Desde 2008, quando escreveu o livro As Fortalezas e a Defesa de Salvador, Oliveira alerta para os problemas estruturais. “(O Forte) necessita, urgentemente, de socalque (reforço) de suas fundações e enrocamento de proteção para continuar testemunhando a nossa memória. Se não receber esse mínimo de cuidado, o seu anel externo vai ruir e, subsequentemente, o resto”, diz trecho do livro.

 

O superintendente do Iphan na Bahia reconhece que a obra é urgente. “Já tentamos uma PMI (Procedimento de Manifestação de Interesse) e não deu certo, mas agora com a verba garantida e com o apoio dos parceiros, do governo federal e da prefeitura, vai sair”, garante.

 

De acordo com o Iphan, nunca antes o espaço passou por uma reforma tão detalhada, principalmente com a manutenção da parte subaquática. “Quase todas as construções nesse formato já caíram. Com essa obra, o Forte será capaz de sobreviver igual tempo ao que já está erguido”, diz o superintendente.

 

Crítica

Responsável pelo espaço por dez anos, o coronel Anésio Leite, presidente da Associação Brasileira dos Amigos das Fortificações Militares e Sítios Históricos (Abraf), desconfia da reabertura do Forte. “Restaurar o monumento é importantíssimo, mas não pode ocorrer o que aconteceu na década de 60 e nos anos 80. Reformaram e deixaram fechado. Também não adianta um local com aquele potencial funcionar em horário de expediente”, critica.

 

A Abraf foi quem administrou as visitações ao espaço de 2006 até março de 2011, quando uma decisão judicial deu ordem de despejo para que o espaço fosse reintegrado ao estado, o que até hoje compromete a relação da Abraf com o Iphan.

 

O que ninguém questiona é a importância do espaço para a cidade. “Mesmo não tendo participado de nenhuma ação militar na defesa do nosso porto, é um testemunho vivo da nossa história”, escreveu Mário Mendonça. “É uma espécie de umbigo da Baía de Todos os Santos”, filosofa Amorim. Já para o secretário de Turismo, Guilherme Bellintani, o Forte de Nossa Senhora do Pópulo e São Marcelo, ao lado do Elevador Lacerda, é um símbolo singular da capital baiana.

 

(Fonte: Correio 24 Horas)

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