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Cresce disputa por emissões locais

A Brasil Telecom, do grupo Oi, pagou 1,06% de comissões aos bancos que coordenaram sua emissão de R$ 2 bilhões em debêntures, o equivalente a R$ 21 milhões. Esse tipo de ganho ainda alto, no entanto, tem sido cada vez menos frequente. A Cemig, por exemplo, conseguiu negociar uma remuneração de apenas 0,05% (R$ 675 mil) em sua oferta de R$ 1,35 bilhão, embora livrando os bancos da garantia firme – compromisso de adquirir os papéis que não forem vendidos aos investidores. Em outro negócio disputado, J.P. Morgan e BTG brigaram na terceira casa decimal em uma licitação da Prefeitura de São Paulo para a escolha do banco que coordenará uma emissão de R$ 500 milhões. O J.P. venceu o leilão, mas o resultado foi contestado pelo BTG.

No processo de concorrência pelas emissões, vence não só o banco que oferece a menor comissão como aquele que propõe a menor taxa de juros que será oferecida aos investidores. Com isso, a expectativa é de que as próximas emissões, em especial de empresas de primeira linha, venham com taxas ainda mais apertadas.

“A taxa teto de algumas emissões virá no piso das que saíram no início deste ano”, estima o superintendente executivo de mercado de capitais do HSBC, Antonio Marques de Oliveira. Como praticamente todas as operações recentes foram bem sucedidas, as instituições têm proposto taxas menores na expectativa de que o bom momento continue. Mas ficarão com a conta se os papéis não encontrarem demanda no mercado, já que a maior parte das operações conta com garantia firme.

Por isso, os bancos “com balanço” devem se manter na liderança desse mercado, diz o executivo de uma grande instituição. Os bancos estrangeiros, diz, têm menos “estômago” para carregar posições nos balanços, por isso devem sair da disputa. O problema é que, quanto menores as taxas e as comissões, menor será a remuneração das instituições, mesmo as locais. “O mercado deve passar por um ajuste, mas não parece ter chegado a um piso”, avalia o executivo.

Em um momento de aumento da demanda tanto das empresas que pretendem captar recursos como de investidores em busca de alternativas mais rentáveis é natural que a competição pelas operações aumente, na avaliação do gerente executivo de mercado de capitais do Banco do Brasil, Josemar Meireles Grilo. Ele afirma que a concorrência, porém, não está restrita à cobrança de comissões menores.

Com as receitas tradicionais mais apertadas, os bancos apostam na chamada comissão de sucesso para ampliar os ganhos com as emissões. Ela é cobrada quando ocorre uma redução na taxa de juros final paga pela empresa após o processo de coleta de intenções de investimento (bookbuilding, no jargão de mercado).

Nas emissões de debêntures da empresa de shopping centers BR Malls e de certificados de recebíveis imobiliários (CRI) da Petrobras a principal fonte de receita dos bancos veio da comissão de sucesso. “Esse tipo de estrutura tem permitido às companhias um ganho maior com a redução na taxa”, diz o executivo do BB.

Oliveira, do HSBC, acredita que a comissão de sucesso é uma tendência que deve se tornar mais frequente no mercado, mas diz que nem todas as companhias aceitam essa cobrança. “Há uma dúvida se empresas estatais ou de capital misto podem trabalhar com a remuneração de sucesso, pois ela pode dificultar a análise da operação pelos tribunais de contas”, afirma.

Para o superintendente executivo de distribuição do Santander, Ignacio Lorenzo, as operações mais tradicionais e de nomes conhecidos do mercado devem ter uma maior disputa por parte dos bancos, o que reduz as comissões. O diferencial, avalia, virá das emissões de empresas novas e com estruturas mais complexas.

 

Por: Vinícius Pinheiro
(Fonte: Valor Econômico)

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