Enquanto o governo brasileiro discute uma potencial redução na tributação de combustíveis fósseis, na contramão do resto do mundo, produtores de biogás tentam criar condições para fazer deslanchar no País uma alternativa renovável ao diesel: o biometano. O cenário em 2021 é visto como promissor, com a quebra do monopólio da Petrobrás nos gasodutos, a esperada aprovação do Novo Mercado do Gás pelo Congresso Nacional e o fortalecimento da agenda ESG (sigla em inglês para os aspectos ambiental, social e governança) na esteira da pandemia da covid-19.
Segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), a produção nacional de biometano é pequena: 365 mil m³ por dia. A entidade projeta um aumento de 10% em 2021, ritmo de crescimento abaixo do visto no ano passado (14%, apesar da pandemia). O volume está muito aquém do potencial brasileiro, estimado pela entidade em 120 milhões de m³ por dia, tendo em vista a quantidade de resíduos produzidos no País. Isso é o equivalente a 39 bilhões de litros de diesel, ou 70% do consumo nacional.
O diretor de vendas de soluções da Scania no Brasil, Silvio Munhoz, conta que, com a pandemia, cresceu a procura de empresas interessadas em caminhões a biometano e GNV (gás natural veicular). A estimativa é fechar 2021 com a venda de mais de duas centenas de unidades no País, contra 70 em 2020. A participação dos modelos a gás na produção e nas vendas gerais da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) é pequena: mil veículos em um total de 30 mil por ano.
A New Holland trabalha para colocar no mercado brasileiro em até dois anos seu trator a biometano. O modelo está em teste por aqui desde 2017, e a ideia é que seja abastecido pelo próprio produtor rural com o biogás gerado por resíduos de animais ou de culturas nas fazendas. A fabricante calcula que o motor a biometano gere uma redução de custos de 25% a 40% quando comparada com os combustíveis convencionais.
Hoje o País tem oito usinas de biometano em produção comercial, fruto de R$ 680 milhões em investimentos, mas só três entregam o combustível no padrão exigido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). A Ecometano, do Grupo MDC, opera duas delas: uma no Ceará e outra no Rio. A presidente do Grupo MDC, Manuela Kayath, diz que, ao mesmo tempo em que a nova Lei do Gás promete destravar o chamado mercado livre – em que consumidores escolhem fornecedores -, cresce a demanda de empresas com metas de redução de emissões mais agressivas. “Hoje enxergamos a possibilidade de cobrar um prêmio em relação ao combustível fóssil.”
Para chegar a uma produção diária de 32 milhões de m³ de biometano em 2030, a Abiogás calcula que seriam necessárias cerca de mil plantas em operação. O investimento estimado é de R$ 50 bilhões, diz o vice-presidente da associação, Gabriel Kropsch. A entidade tenta negociar com o governo formas de dar escala à produção e fomentar os projetos.
Já a Zeg Biogás planeja investir R$ 460 milhões até 2024. A companhia finaliza uma planta de biometano no aterro sanitário CTL Ecourbis, na capital paulista e até meados do ano inicia a produção do primeiro de seis projetos de biogás a partir da vinhaça, resíduo da produção de etanol. A aposta é que o combustível renovável possa revolucionar a frota pesada no Brasil, assim como o etanol o fez na frota leve.
Fonte: CGN